Neta de Elvis Presley seduz em série sobre garota de programas
No ramo das agências de acompanhantes de luxo, o serviço GFE (Girlfriend Experience, ou namorada de aluguel), é talhado para homens que torram uma generosa grana com prostitutas, mas querem uma certa regularidade nos encontros e uma aparência de relacionamento afetivo. No caso da Ashley White Luxury Escort, de Chicago, a agência cobra US$ 2 mil para que uma de suas “associadas” almoce com o cliente. O preço dobra se for jantar, e chega a US$ 5 mil se exigir um “período íntimo” ou US$ 8 mil se a garota pernoitar.
Christine Reade, estudante de direito e estagiária de um escritório de advocacia antes do sol se recolher, entra para o mundo das trabalhadoras de sexo, obviamente, sob nome falso: Chelsea. Ao aumentar seu orçamento mensal, outrora minguado, ela descobre que não só tem talento para participar de diferentes jogos sexuais, como também gosta de seu novo bico. E ela até dá mais de si: age como confidente em certas ocasiões.
Na nova série “The Girlfriend Experience”, lançada domingo (1o) no canal americano de TV Starz, Christine é interpretada por Riley Keough, 26, filha de Lisa Marie Presley e do músico Danny Keough. Elvis Presley, o vovô de Riley, deve estar se revirando no caixão. Com vergonha e orgulho. A atriz aparece seminua em várias cenas de sexo com homens mais velhos. Ela também mostra que tem potencial como atriz, o que tinha ficado rapidamente evidenciado na participação que fez em “Mad Max: Estrada da Fúria”.
“The Girlfriend Experience” tem 13 capítulos, todos já disponíveis para consumo “binge watching” (hábito de assistir os episódios de uma série ininterruptamente) desde domingo, depois de o Starz exibir os dois primeiros episódios. A série tem produção-executiva do diretor independente Steven Soderbergh e leva o nome emprestado do título em inglês do filme “Confissões de uma Garota de Programa”, que ele lançou em 2009.
Naquela produção, considerada monótona pelo crítico de cinema da Folha e também sem muito grande entusiasmo pelos resenhistas americanos, a atriz pornô Sasha Grey interpretava um prostituta de elite, baseada em Nova York, que oferecia companheirismo e sexo aos clientes, tendo o pós-colapso financeiro de 2008 como pano de fundo.
Ao desenvolver esse spin-off para a TV, Soderbergh quis uma história totalmente diferente e formou um par de diretores (que também dividem o roteiro): o cineasta indie Lodge Kerrigan e a atriz (e diretora experimental) Amy Seimetz, mais conhecida por sua participação na série de TV “The Killing”. A sensibilidade de Soderbergh, fria, absorta e repressiva, está bem registrada no programa. Clichês do gênero também não conseguiram escapar. A estética é de um softcore chique, com guarda-roupa em tons de cinza e azul escuro e emoções contidas.
A cidade de Chicago (a série foi gravada, na verdade, em Toronto) vira Nova York e Claire é mais nuançada, mais agressiva e predadora, do que a personagem de Sasha Grey. Ela estuda, faz estágio e depois vai passar a noite num cinco estrelas com tiozão rico, um deles chega a passar por um revés financeiro e pede um desconto para a call-girl. Ela declina o ajuste seus honorários.
No escritório em que trabalha, Christine é pega numa disputa de poder entre dois sócios, Erin (Mary Lynn Rajskub, do seriado “24 Horas”) e David (Paul Sparks, o jornalista que escreve livro sobre o presidente Kevin Spacey e a primeira-dama Robin Wright em “House of Cards”). Ela vem a se envolver com David, seu chefe direto.
Uma amiga do curso de direito, Avery (Kate Lyn Sheil) é quem lhe apresenta para a cafetina, dona do website que oferece os encontros GFE, e que lhe dá a chance da profissão nova. “Você não trabalha para mim. Você trabalha comigo”, diz a empresária do sexo durante almoço num restaurante chique. Semanas mais tarde, Christine abandona a agenciadora e começa a fazer freelancers por fora.
Por vezes, GFE consegue ser monótono como o filme original de 2009, mas é viciante. Tudo por causa da presença sedutora de Riley. A neta de Elvis segue a mesma escola da atriz Rooney Mara (não à toa que esta última também já foi musa de Soderbergh). É uma dessas belezas frígida, de expressão contida e enigmática, que você não sabe se ela está realmente enfadada o tempo todo como um personagem do seriado Mad Men ou se está atuando bem. Na dúvida, ponto para elas. Como o crítico do jornal “New York Times” bem colocou: “Riley é como uma lâmpada de LED, intensa e fria.”