Os selfies que colocaram o Congresso Americano em alerta
Não são apenas nossos políticos que flertam com imoralidades como usar o dinheiro do contribuinte em proveito próprio. Só que o republicano Aaron Schock, eleito pelo estado americano de Illinois, parece ser, digamos, mais criativo do que os outros quando o assunto é meter as mãos na grana do povo. O problema no caso dele é que foi justamente a criatividade que dedurou.
Schock, de apenas 33 anos, era conhecido em Washington DC como o político que melhor usava as redes sociais. Sua conta de Instagram era famosa por mostrar o deputado em muitas aventuras esportivas: surfando, fazendo hicking em glaciais, dançando tango em Buenos Aires, nos bastidores de um show com Jay Z. Aí, um dia, alguém na Associated Press pensou assim: pois vejamos, se esse rapaz está sempre viajando e fazendo coisas super divertidas, quem exatamente está a pagar por essa vida super-deliciosa? E rastearam a trilha da grana. E, que coisa incrível, o dinheiro do contribuinte estava sendo usado para pagar quase todas essas indulgências, incluindo aluguel de jatos particulares (U$ 40 mil, ou R$ 120 mil, gastos em jatinhos). Na mesma hora, mais ou menos como acontece no Brasil, Schock saiu fazendo cheques para devolver a grana aos cofres públicos.

Claro que quem tem faro para encrencas como essas também é talentoso para montar um time de pessoas que não guardam muita noção das coisas, e antes mesmo do escândalo da grana pública o deputado Schock já estava sendo alvo de críticas porque um de seus secretários fez um post no Facebook comparando negros a animais de zoológico. O secretário racista, claro, foi afastado.
Mas os ventos para o lado de Schock continuaram a soprar. Como quase todo republicano, ele é contrário a causas sociais que envolvam direitos dos gays. A questão é que sua conta de Instagram, como podemos dizer isso… bem, sua conta de Instagram, cheia de selfies e de fotos de Shock “living la vida loca”, foi avaliada pelo público como “uma das contas mais gay de todo o Instagram”. Não demorou para que um site, o americablog.com, soltasse nota com o tema “tem coisa mais constrangedora do que quando você descobre que a conta de um político conservador anti-gay é aviadada?” a partir daí, matérias em sites gays como “as seis fotos mais gays de Schock no Instagram” viralizaram.

Tempos atrás, Schock, atleta orgulhoso, jea havia sido capa da Men’s Health exibindo sua barriga tanquinho.
Mas não acabou, e talvez o melhor ainda esteja por vir. Em fevereiro o Washington Post descobriu, por acidente, que Schock havia gastado os tubos para decorar sua sala (e a antessala) em Capitol Hill como a “sala vermelha de Downton Abbey”, com “detalhes em couro, granito e veludo”, segundo a decoradora que foi entrevistada pelo jornal porque estava na antessala de Schock em Capitol Hill quando o repórter chegou e, sem saber que não deveria falar sobre o assunto, achou que seria uma boa ideia promover seu trabalho. Empolgada, pegou o repórter pelas mãos e o levou à suíte principal, ainda mais rebuscada e mais “Downton Abbey”.
Ben Terris, o repórter do Washington Post, estava fotografando a sala Downton Abbey quando seu celular tocou. Era uma ordem de alguém da equipe de Schock para que saísse dali e apagasse imediatamente as fotos. Mais tarde apurou-se que a decoração havia custado cerca de U$100 mil dólares, ou R$300 mil. O mesmo jornal revelou que a decoração seria paga com o dinheiro do contribuinte. Nas palavras de Terris: “Washington sempre foi mais ‘VEEP’ do que ‘House of Cards’”.
Siga o Baixo Manhattan também via Instagram: @blogbaixomanhattan