Björk é tema da mais tecnológica exposição de arte de todos os tempos
Recentemente, a artista Marina Abramović revelou como foi conhecer a cantora e compositora Björk. “Quando a vi, numa festa no apartamento de um amigo, Björk carregava uma estranha sacola e, dentro dela, havia um grande telefone vermelho”. Já amigas, as duas começaram a se encontrar frequentemente. “Uma vez fomos ao mercado das pulgas e Björk usava uma gaiola vazia no pescoço, que funcionava como um colar”. Visitando Björk e, enquanto a última fazia sardinhas na brasa, Abramović decidiu xeretar o quarto da amiga. Encontrou uma densa neblina. “Ela tinha tipo cerca de 64 vaporizadores de ar, que usa para cuidar da voz”. E, quando Abramović comemorou aniversário e convidou Björk, esta apareceu na companhia de sete cantoras islandesas – todas grávidas, “em períodos diferentes de gestação”. “Björk é capaz de criar cenas cotidianas na vida dela que mais lembram instalações de arte”, descreve.

Na manhã de hoje, Björk surgiu – de carne e osso – no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, vestida como um cacto preto. Era uma verdadeira instalação de arte ambulante. Enquanto gesticulava ao apresentar seu novo vídeo musical, a parte superior do cacto sambava contra a tela de projeção. Após 12 anos de tentativa, o curador alemão Klaus Biesenbach conseguiu convencer Björk a dar a benção dela – e cooperar – com aquela que vem a ser uma das mais originais mostra de arte pop dos últimos tempos.
Neste domingo, o MoMA abre as portas da exposição que leva o nome da cantora. Trata-se de uma imersão musical pelas letras, sons e psiquês de um músico jamais visto. O MoMA já havia experimentado (e ousado) com exposições sonoras como a retrospectiva da banda alemã Kraftwerk, em 2012, mas no caso de Björk a ousadia foi um pouco mais longe. “Trata-se de uma das mais complicadas exposições do MoMA”, disse Glenn D. Lowry, diretor do museu.

“Björk” mistura música, tecnologia, arte, vîdeo e moda. O museu precisou adaptar uma grande area do mezanino do lugar para criar três salas novas. A maior e principal delas – e em estilo labirinto – requer que o visitante use grandes fones de ouvido, acoplados a um tocador de MP3. A voz que guia os visitantes pelas galerias repletas de réplicas em tamanho normal de Björk, letras de música e adereços usados nos clipes dela pertence ao músico Antony Hegarty, do Antony and the Johnsons.

Em determinado momento, Antony “sussura”, em tom completamente zen, no ouvido do visitante: “vai devagar”. O tocador de MP3 responde aos pontos de Bluetooth instalados nessas galerias e que sincronizam a música de diferentes CDs de Björk com a disposição geográfica dos objetos em exposição. Enquanto o visitante vê a bota que o designer belga Walter van Beirendonck criou para o video “Hyperballad”, ou o blazer em forma de correspondência que o turco Hussein Chalayan esboçou para a capa do CD “Post”, de 1995, a música “Isobel”, do mesmo CD (e inspirada em Elis Regina), surge nos fones de ouvido. Se você pular de sala rapidamente e deixar a fase do Vespertine (CD de 2001) para trás e optar por Volta (CD de 2007), a música correspondente e as declarações de Hegarty avançam também. Para criar essa sintonia, a saída foi prosaica: um dos principais patrocinadores da exposição, a montadora alemã Volkswagen, adaptou a tecnologia GPS de seus carros para as pequenas galerias do museu.

O curador Biesenbach havia tentado fazer uma retrospectiva de Björk em 2000. “Já naquela época, ela tinha um conjunto de videoclipes que dava para preencher uma exposição”, explica o curador ao Baixo Manhattan. “Mas ela não topou. Björk odeia olhar para o passado”. Em 2012, a artista foi novamente procurada por Biesenbach. “A pergunta dela, dessa vez foi: ‘será que o MoMA estaria disposto a criar uma experiência autêntica que misturasse som, música e arte?” O museu topou e Björk pessoalmente lidou com um time de designers, carpinteiros, videomakers, arquitetos, fotógrafos e assessores de imprensa. Até na semana passada, ela estava dando as últimas sugestões de retoques.

A sala-labirinto da exposição se chama Songlines, e foi ideia original da cantora. Para passar por ela, ouvindo músicas de Björk e a voz reconfortante de Hegarty se gastam 40 minutos. Nessa viagem musical, a paisagem é bem desfile de moda. Manequins com o rosto da cantora (feitos de scans 3-D do corpo da cantora) vestem roupas de Alexander McQueen (o vestido de noiva Pagan Poetry, de 2001, e o de bolas de metal de 2004), Marjan Pejoski (o infame vestido de tule em forma de cisne que ela usou na cerimônia do Oscar em 2001) e Iris Van Herpen (o vestido da turnê Biophilia, de 2011). Há também acessórios como máscaras feitas de penas turcas ou cristais Swarovski e muitas letras de música, seja em papéis de rascunhos, nas costas de um cartão de visitas ou em papel de presente.

No casulo número 2, com imensos sofás-camas vermelhos, pode-se assistir a quase todos os videoclipes da cantora, dirigidos por cineastas como Michel Gondry (“Isobel”, “Hyperballad”, “Bachelorette” e “Crystalline”), Spike Jonze (“It’s So Oh Quiet”, “It’s In Our Hands” e “Triumph of the Heart”), além de Eiko Ishioka, Stephane Sednaoui, Bill Cunningham e até o casal de fotógrafos Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin, responsável pela foto de capa de vários CDs de Björk. A exposição se encerra em uma terceira sala, com a exibição do videoclipe Black Lake, de dez minutos de duração e dirigido por Andrew Thomas Huang. “Trata-se de uma experiência generosa”, disse Björk ao apresentar o video aos jornalistas. “Esses últimos dias têm sido uma experiência incrível para mim”. A mostra do MoMA, que deve ser um sucesso comercial, fica em cartaz até o dia 7 de junho. Mas ela poderá ficar defasada em breve. “Björk terminou essa semana um novo trabalho que ela vai mostrar ao mundo no dia 16 de março”, disse Biesenbach.
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