Âncora de TV suspenso por assédio é fã de Caetano e Sonia Braga

Marcelo Bernardes

No começo de novembro, Gayle King, Nora O’Donnell e Charlie Rose, trio de âncoras que apresenta, de segunda a sexta, o programa CBS This Morning, da rede CBS, participaram de um evento da mídia, em Nova York, para debater a derrocada do produtor de Hollywood Harvey Weinstein, acusado de ter assediado sexualmente mais de 70 mulheres, entre elas as atrizes Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie e Ashley Judd. No debate aberto ao público, O’Donnel chamou a onda de denúncias de assédio sexual contra políticos, artistas e outras personalidades públicas de “histórico”. O âncora Rose também opinou: “Existem certas coisas que acontecem na sociedade, e que mostram que estamos progredindo“.

Na noite de hoje (20), Charlie Rose, 75, virou notícia dos principais telejornais da TV americana, a segunda em importância do dia, por apresentar modus operandi semelhante ao de Weinstein, como o de andar nu na frente de suas subalternas.

Anthony Mason, âncora do principal telejornal da rede CBS, o CBS Evening News, deu a má notícia sobre o colega de redação. Rose foi afastado de dois programas da casa após o jornal Washington Post ter publicado, na tarde de hoje, uma reportagem-denúncia contra o âncora, acusado de assédio sexual por oito mulheres. Rose, um dos mais famosos jornalistas dos EUA e considerado pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, foi afastado por tempo indeterminado do “CBS This Morning” e também do programa “60 Minutes”, exibido aos domingos e no qual ele fazia participações esporádicas por quase uma década.

Charlie Rose em seu programa de entrevistas na rede educativa PBS. (Foto: Reprodução)

Todas as oito mulheres entrevistadas pelo jornal WaPo trabalharam diretamente com Rose não na rede CBS, mas sim no programa que deu fama ao apresentador, o “Charlie Rose”,  apresentando no final da noite pela rede educativa PBS e no qual Rose entrevistou desde os ex-presidentes americano Barack Obama e francês Nicolas Sarkozy, passando por empresários como Bill Gates e Warren Buffett, à personalidades como a atriz Sophia Loren, o escritor Salmon Rushdie e a cantora e escritora Patti Smith. A rede PBS e a Bloomberg TV, que retransmite o programa, também anunciaram hoje a suspensão do âncora e a retirada do programa (alguns já pré-gravados) do ar.

Entre 1990 a 2011, segundo o Washington Post, Rose assediou oito mulheres do staff de seu programa, com idades (na época do assédio) entre 21 a 37 anos. Segundo as entrevistadas (três delas revelaram suas identidades), Rose tinha um padrão próprio de agir: ele aplicava o “truque do chuveiro”, andado pelado na frente de algumas assistentes que também faziam trabalhos na casa do apresentador. Com algumas, em ligações telefônicas tarde da noite, ele discorria sobre suas fantasias sexuais (uma delas de nadar pelado ao lado de uma das funcionárias). Rose também tinha a infame mão boba: começava colocando a mão na perna das agredidas, só indo parar na altura da coxa delas. Uma das funcionárias acusou Rose de ter apalpado os seios dela.

No final da tarde de hoje, logo depois que o WaPo disponibilizou a reportagem em seu site , Rose divulgou nota à imprensa pedindo desculpas e refutando algumas das acusações contra ela. “Em meus 45 anos de jornalismo, sempre me orgulhei de defender a carreira das mulheres com que trabalhei”, começava a nota. “É essencial que estas mulheres saibam que eu as ouvi (a denúncia delas) e desculpo-me profundamente por meu comportamento impróprio”, continuou. “Comportei-me insensivelmente em algumas situações, e aceito responsabilidade por elas, embora acredite que algumas dessas alegações não sejam acuradas. Sempre senti que estava explorando sentimentos compartilhados, muito embora agora eu entenda que estava enganado”.

Sonia Braga foi ao programa de Charlie Rose em 1996 promover o filme inglês “Two Deaths”

Da queda do muro de Berlim à Primavera Árabe, Rose fez longas e intensas entrevistas com analistas e líderes mundiais. Ele foi um dos raros jornalistas americanos a entrevistar os presidentes da Rússia Vladimir Putin e o da Síria Bashar al-Hassad. Em 2007, foi a Brasília entrevistar o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.

Rose também era simpatizante da cultura brasileira, tendo declarado publicamente ser fã da atriz Sonia Braga e do músico Caetano Veloso, ambos entrevistados no programa dele na PBS. Rose ainda entrevistou o músico Gilberto Gil, a modelo Gisele Bündchen e o empresário Eike Batista.