Em decisão inédita, diretor decide apagar imagens de Kevin Spacey de novo filme
Desde agosto, quem frequenta os cinemas americanos, raramente escapa de assistir ao trailer do filme “Todo o Dinheiro do Mundo” (All the Money in the World), novo trabalho do diretor Ridley Scott e grande aposta do estúdio de cinema Sony Pictures para o Oscar 2018.
O trailer agora leva muita gente a torcer o nariz. No escurinho do cinema, a figura infame da vez, capa de tablóides e revistas de fofocas, surge nos minutos finais do trailer da mesma maneira que apareceu num punhado de seus trabalhos: sublime. O ator Kevin Spacey, recentemente acusado de assédio sexual e pedofilia (por homens e mulheres), passou por um intricado processo de maquiagem que o transformou em J. Paul Getty, o magnata americano que ampliou o império petrolífero de sua família e que teve que lidar com o sequestro de seu filho, principal foco do filme de Scott. Spacey já era um dos pré-favoritos para o Oscar de melhor ator coadjuvante.
Numa decisão sem precedentes em Hollywood – e sem discutir seus planos com o estúdio Sony até a hora H -, Ridley Scott decidiu apagar Spacey do filme, optando por substitui-lo por outro ator. A inesperada solução é dispendiosa e pode alterar os rumos do cinema. “Todo o Dinheiro do Mundo” estava totalmente pronto, próximo a ser exibido pela primeira vez num festival de Los Angeles, antes de sua estreia americana em 22 de dezembro. Para ganhar o apoio da Sony, o diretor teve que prometer à companhia que ele entrega a nova versão do filme a tempo da estreia oficial.
Christopher Plummer, veterano intérprete que foi a primeira escolha de Scott (o estúdio queria um nome mais famoso e o vetou, optando por Spacey), tem agora sua segunda chance de interpretar Getty. Scott vai refilmar as cenas do filme com Plummer e os principais atores da produção – Mark Wahlberg e Michelle Williams, ambos já concordaram em voltar ao trabalho. Em várias cenas externas, rodadas nos EUA, Europa e Oriente Médio, Scott vai inserir digitalmente o rosto de Plummer sob o de Spacey.
Se tem algum diretor qualificado para executar tal dramática solução, este é Scott. Em 1999, enquanto enchia a cara num bar da ilha de Malta, o beberrão ator inglês Oliver Reed sofreu um ataque cardíaco e morreu algumas semanas antes de rodar todas suas cenas no filme “Gladiador”. Scott, que ganhou um Oscar de direção pelo filme, rodou as cenas inéditas de Reed com outro ator e aplicou digitalmente o rosto de Reed, de cenas pré-rodadas, sob as do figurante.
Scott tem agora cerca de 20 dias para rodar, criar efeitos especiais e editar as cenas de Plummer. Caso obtenha êxito, a ideia do diretor poderá criar uma alternativa perigosa para os atores, deixando os nervos deles à flor da pele. Caso eles se metam em escândalos sexuais ou atividades criminais, fica mais fácil de apagá-los para sempre da história do cinema.