Em NY, fila de três horas para provar dim sum com estrela no Michelin

Marcelo Bernardes

Em Hong Kong, Taiwan, Macau, Vietnã, Austrália ou agora em Nova York, o restaurante Tim Ho Wan não se inibe em declarar em seus letreiros externos a que veio: especialistas em dim sum (bolinhos feitos no vapor com recheios variados). A propaganda não é enganosa. Considerados um dos melhores dim sums na China – e com preços incrivelmente convidativos – o Tim Ho Wan tem a distinção de ser o mais barato restaurante do mundo a ter recebido uma estrela do guia Michelin.

Em Nova York, desde que abriu sua as portas em janeiro, no bairro do East Village (esquina da Quarta Avenida com a rua 10), a romaria ao local que, em cantonês significa “adicione boa sorte”, é intensa. Dependendo do dia, principalmente na hora do almoço e do brunch nos finais de semana, a espera para entrar no lugar pode resultar-se numa experiência brutal: até 3 horas. E o restaurante abre para o almoço (e brunch) às 10h da manhã!

Filas na porta do Tim Ho Wan na hora do almoço. (Foto: Marcelo Bernardes)

 

Quando finalmente, num bom dia, consegui uma mesa às 11h da manhã para o almoço, um garçom me oferece uma folha de papel e um lápis para assinalar os dim sums e outros pratos de minha preferência. Escolhi com moderação. Pedi o dim sum favorito, que fez a fama do restaurante original em Hong Kong: um bolinho assado de porco com molho de churrasco. Também assinalado em minha comanda estavam dois tipos de har gows (bolinhos cozidos): um só recheado com camarão e o outro com camarão e cebolinha. Para finalizar, dumplings fritos com recheio de camarão e porco.

 

Prato principal da casa: bolinho assado de porco com molho de churrasco. (Foto: Peter Garritano/Divulgação)

 

Com cada porção contendo de três a quatro dim sums, minha mesa logo foi preenchida com pratos de louça e bandejas de bambu com um total de 13 bolinhos. Acreditei estar participando de um banquete. Foi quando vi dois garçons se aproximarem da mesa ao lado, ocupada por uma jovem fashionista asiática, de bolsa Chanel, salto alto e muito magra, carregando seis pratos diferentes de dim sum, mais um com pés de galinha (que ela devorou satisfeita) e um oitavo com beringela frita servindo de base para um camarão cozido. Hora de pedir alguns pratos extras!

 

Cliente preenche a comanda com pratos de sua preferência. (Foto: Marcelo Bernardes)

 

Qualquer um das porções servidas no Tim Ho Wan não custa mais do que US$ 5.50 (R$ 17.50). A média de preços é de US$ 4.50 (R$ 14.30). Dois pratos são suficientes. Mas é impossível ficar só em dois deles. É também complicado ir ao local, com a intenção de fazer uma refeição rápida no balcão. Este é bem pequeno, com espaço apenas para seis pessoas. O local é perfeito para uma experiência gastronômica para duplas ou grupos, sentados à mesa.

 

Har gows são recheados com camarões inteiros. O acima vem com cebolinha. (Foto: Marcelo Bernardes)

 

O Tim Ho Wan oficial abriu suas portas num pequeno espaço no bairro de Mong Kok, em Hong Kong, em 2009. A sociedade entre dois chefs famosos de Hong Kong – Mak Kwai Pui (que comandou a cozinha do hotel Four Seasons local, que tem 3 estrelas no Michelin) e Leung Fai Keung – logo chamou a atenção do Michelin que, no mesmo ano, atribuiu uma estrela ao local, tornando-se o restaurante mais barato do mundo a receber tal honraria.

 

Pés de galinha: um dos pratos de sucesso do Tim Ho Wan. (Foto: Peter Garritano/Divulgação)

 

Desde então o restaurante se tornou uma mini-franquia. O espaço no East Village, o primeiro a abrir nos Estados Unidos, é o 45o. restaurante da rede no mundo. Apesar de ser um mini-império dos dim sums, todos os pratos – massa e recheio -, são preparados na cozinha aberta do local.

As chances de se comer um har gow feito no dia anterior e que pernoitou na geladeira são de 0%. Toda a comida é feita na hora. Também, ao contrário da maioria dos restaurantes de dim sums da Chinatown nova-iorquina, o Tim Ho Wan usa camarões inteiros em seus pratos. Nada de misturá-los com farinha, carne de carangueijo ou de outros frutos do mar. Até o molho de soja é feito no local.

 

Arroz grudento servido com folhas de lótus. (Foto: Peter Garritano/Divulgação)

 

O prato mais famoso da casa, o bolinho cozido com recheio de porco, é preparado de modo quase científico. Os chefs desenvolveram uma massa que não gruda no céu e outros cantos da boca. O sabor da massa é único: eles polvilham um pouco de açúcar nela. Também dissolvem na boca os rolinhos com massa de arroz com recheio de porco. O arroz grudento servido em folhas de lótus é macio e aromático. E o bolo de nabo, extremamente crocante.

As opções de sobremesa são limitadas. Com inveja da fashionista que pediu duas delas, fiz o mesmo. O garçom me alerta que a gelatina de goji, a frutinha do Himalaia, pode assustar os incautos por causa de seu forte cheiro. Ele estava sendo muito cuidadoso. A diferença é que o sabor da goji berry é mais acentuado que o da fruta desidratada, item popular nos supermercados americanos de produtos naturais. Também experimento uma sobremesa “criada especialmente para o restaurante de Nova York”: o french toast com creme de ovos. De todos os pratos, esse híbrido gastronômico, era o menos interessante do menu.

 

Opções de sobremesa incluem gelatina de goji berry e french toast com creme de ovos. (Fotos: Marcelo Bernardes)