Anunciantes boicotam (e Trump apoia) âncora acusado de assédio

Marcelo Bernardes

O que fazer quando 34 anunciantes, entre eles as companhias de carro Mercedes-Benz e a farmacêutica Bayer, deixaram de anunciar durante o intervalo de um popular programa de TV sacudido por um escândalo de assédio sexual?

Preencher o espaço com muitas chamadas de outros programas da casa e remanejar para o horário nobre anúncios de qualidade visual menos sofisticada como um de pranchas de equilíbrio (“para esculpir seu abdôme”) que o anunciante comercializara, a preços mais módicos, para ser inserido nos intervalos da programação de madrugada.

Foi isso o que aconteceu, pela segunda noite consecutiva, durante os intervalos do noticiário “The O’Reilly Show”, um dos programas de maior audiência da emissora conservadora Fox News.

Também pela segunda noite consecutiva, seu apresentador, Bill O’Reilly, não fez qualquer menção sobre o polêmico artigo do jornal The New York Times, publicado sábado (1o.), que explicitava acordos que o canal Fox teve que negociar com cinco mulheres que alegaram terem sido vítimas de assédio sexual e abusos verbais de O’Reilly.

No artigo escrito pela dupla de jornalista Emily Steel e Michael Schmidt, documentos com testemunhos das mulheres – algumas trabalhavam diretamente com o apresentador, outras foram comentaristas convidadas do programa – mostravam que o comportamento inapropriado de O’Reilly ocorreu durante conversas corriqueiras e que o assédio incluiu aproximações indesejadas e até telefonemas em que algumas dessas mulheres notaram ruídos que indicavam que O’Reilly estava se masturbando do outro lado da linha.

Em entrevista ao jornal The New York Times feita hoje (5) no salão oval da Casa Branca, o presidente Donald Trump disse não acreditar que O’Reilly tenha feito “qualquer coisa errada” e que “pessoalmente eu acho que ele não deveria ter feito um acordo”. Trump defendeu o apresentador dizendo que conhece O’Reilly “muito bem” e que “ele é uma boa pessoa”.

Para não seguirem adiante com ações judiciais, a Fox pagou a essas mulheres um total de US$ 13 milhões. Em seu website, O’Reilly fez o único comentário oficial sobre o caso. “Estou vulnerável a processos de indivíduos que querem que eu pague para evitar publicidade negativa”. A razão dos acordos é que O’Reilly queria poupar os dois filhos adolescentes de “situações embaraçosas”.

O número da debandada de anunciantes do “The O’Reilly Factor” já chega ao de 34 empresas. Em notas divulgadas à imprensa, a companhia de carro Mitsubishi disse que lida com as alegações com “muita seriedade”, e a seguradora All State reiterou que “a inclusão e o apoio às mulheres são valores muito importantes para a companhia”.

Gráfico feito por noticiário da rede NBC mostram os anunciantes que romperam relação com o programa da Fox. (Foto: Reprodução)

A rede Fox também soltou comunicado oficial: “Valorizamos nossos parceiros e estamos trabalhando juntamente a eles para expressarmos as suas atuais preocupações com o ‘The O’Reilly Factor’”.

Segundo a jornalista do New York Times, Emily Steel, a rede Fox recentemente renovou seu contrato com o O’Reilly, “mesmo que a companhia estivesse ciente dessas acusações”. Todos os anúncios já pagos foram remanejados para outros programas da casa. Somente a companhia Jenny Craig, responsável por comercializar um sistema de comida para emagrecimento, diz que não tem intenção de romper laços com o programa.