Lena Dunham diz que evitou ficar deslumbrada com a fama

Marcelo Bernardes

A sexta e derradeira temporada do seriado “Girls”, criado pela escritora, atriz e cineasta Lena Dunham, estreia hoje nos EUA e na madrugada de segunda (13) no Brasil. A HBO Plus exibe o primeiro episódio à 1h da manhã. Fiz uma entrevista com Dunham, na sede da HBO, no centro de Nova York, para a Ilustrada, publicada hoje. Abaixo a segunda parte da entrevista.

Quando decidiu que era o momento de encerrar o seriado?

Lena Dunham – Quando começamos a preparar a quarta temporada. Concordamos que teríamos material para mais duas. Na primeira temporada, você dá tudo de si, pois teme que a segunda pode não rolar. Acho que nossa primeira temporada foi a melhor de todas, seguida das quinta e desta derradeira. Acho que ao escrevermos as duas últimas, a gente renovou nossos votos com a série e demos tudo de si, como no início.

Como a fama conquistada por “Girls” mudou você?  

Dunham – Somente um sociopata pode diz que se sente preparado para a fama. De minha parte, desde o começo, achei que seria muito importante eliminar o deslumbramento. Sou grata de ter chegado onde cheguei, mas, ao mesmo tempo, preciso continuar trabalhando. Também cai em várias armadilhas, fui criticada publicamente e tive que aprender a lidar com isso.

Lena Dunham em cena com o ator Matthew Rhys (do seriado "The Americans"), que participa do terceiro episódio da temporada final de "Girls" (Foto: Divulgação)
Lena Dunham em cena com o ator Matthew Rhys (do seriado “The Americans”), que participa do terceiro episódio da temporada final de “Girls” (Foto: Divulgação)

Como lidou com os detratores?

Dunham – Principalmente depois da eleição presidencial, tenho me protegido muito mais a respeito do conteúdo que leio na imprensa ou nas mídias sociais. Não posso ter minha opinião alterada por pessoas que não me conhecem ou que nunca assistiram o meu programa mas, mesmo assim, encontram tempo livre para formar uma opinião negativa a meu respeito.

 

Muita gente culpa a nova geração por ter ficado ausente das urnas durante a eleição presidencial americana, facilitando a volta do conservadorismo na política. Concorda com essa tese?

Dunham – Os millennials são uma das gerações mais politicamente ativas dos últimos anos.  Mas a maioria do ativismo antes da eleição presidencial estava vindo de jovens negros, que possuem total entendimento das injustiças em nosso país. É por isso que vimos movimentos como o “black lives matter”; é por isso que vimos as pessoas na Dakota do Sul fazendo passeatas contra a construção de um duto que nativos norte-americanos dizem que vai profanar a terra sagrada e poluir a água. Muitos millennials brancos acreditaram que seus pais, em décadas passadas, já haviam feito todo o trabalho para eles de protestar. Mas é errado também generalizar. Vi muitos millennials brancos apoiando Bernie Sanders, ou se acabando, fazendo campanha para a Hillary Clinton. Acho que agora as pessoas entenderam que é muito importante votar. A conversa que realmente temos que ter é que uma grande porcentagem de jovens mulheres brancas votaram para Trump. Ao o apoiarem, elas votaram contra os interesses de suas irmãs negras, de suas irmãs transgêneros, de suas irmãs latinas. Meu entendimento é que muitas dessas pessoas pertencem a famílias predominantemente patriarcais. Se não tivesse sido criada por mãe feminista, e sim por um pai que diz que aborto é pecado, ou tendo um irmão que não respeita a santidade de meu corpo, não sei para quem eu teria votado.

No episódio de estreia da sexta temporada de "Girls", Lena Dunham tem várias cenas de sexo com o ator e rapper inglês Riz Ahmed. (Foto: Divulgação)
No episódio de estreia da sexta temporada de “Girls”, Lena Dunham tem várias cenas de sexo com o ator e rapper inglês Riz Ahmed. (Foto: Divulgação)

Uma de seus objetivos em “Girls” era o de criar uma discussão a respeito da aceitação do corpo feminino em suas mais variadas formas. Acha que obteve êxito?

Dunham – Acredito ter feito parte de um momento maior, em que ter problemas ou esconder o verdadeiro corpo de uma mulher, são coisas do passado. Vejo a indústria de modelos “plus size”, que cresce neste país, como algo bem positivo. Mas fato é que essas pessoas ainda são modelos, assessoradas por maquiagem e boas roupas. O que a gente precisa normalizar é o corpo das mulheres que não pertencem a esse time, que não possuem o sutiã perfeito, e que não têm ajuda especializada para maquiagem ou fazer highlights no cabelo. Mas não quero tirar o mérito das modelos plus size. Adoro a Ashley Graham e a Tara Lynn. Mas é bastante legal ver no Instagram mais mulheres posando sem maquiagem ou não escondendo a celulite em poses ridículas. Isso é poder.

“Girls” ficou famoso pelas cenas de sexo inusitadas. O que acha de cenas similares mostradas em filmes de Hollywood?

Dunham – Sempre me pareceu bastante confuso ver uma mulher usando négligé na tela do cinema, fazendo sexo com um homem gostoso, que não tem o menor interesse em despi-las. As pessoas começam a beijar, entra uma música, a cena meio desfocada… Isso nunca funcionou para mim, pois sempre criou uma expectativa irreal de como o sexo ia ser na verdade.

Você disse que tem se protegido bastante com o que material que lê hoje em dia. Quem tem oferecido um bom insight sobre a situação política?

Dunham – O que me deixa esperançosa é que até revistas como a “Teen Vogue” têm feito reportagens políticas hoje em dia. É bom ter também jovens escrevendo sobre políticas em vez de velhos jornalistas americanos. É uma distinção bem legal.