Em biografias, jogadoras dos EUA elogiam Marta e futebol brasileiro

Marcelo Bernardes

“Jazzistas de chuteiras”, “talentosas e exibicionistas”. É assim que duas jogadoras norte-americanas de futebol descrevem as oponentes brasileiras em biografias lançadas este mês nos Estados Unidos.

No livro “When Nobody Was Watching” (Quando ninguém estava olhando), que chegou às livrarias ontem (27), a meio-campista Carli Lloyd, atual melhor jogadora do mundo, diz que a seleção brasileira de futebol é “uma coleção de jogadoras de deslumbrante habilidade que jogam como se fossem músicos de jazz usando chuteiras”. Já Abby Wambach, na biografia “Forward” (Atacante), lançada há duas semanas, escreve que as adversárias: “jogam com talento e exibicionismo, como se tivessem numa balada, como tudo fosse uma diversão e não uma guerra”. Abby, também diz, que as brasileiras “aperfeiçoaram a arte de criar faltas”.

Capa da biografia de Carli Lloyd, lançada ontem nos EUA. (Foto: Reprodução)
Capa da biografia de Carli Lloyd, lançada ontem nos EUA. (Foto: Reprodução)

Em ambos os livros, a jogadora Marta é elogiada em diversas passagens. Para Carli, a atacante brasileira “é uma mágica vestida de camisa amarelo-canário, que faz a bola parecer ter um velcro que a mantém sempre próxima de seu pé”. Já Abby chama Marta de “formidável” e “chamativa”. “Ela ginga e rodopia ao movimentar-se pelo gramado, mais parecendo uma sambista em campo do que uma atacante. Eles (os brasileiros) a chamam de ‘Pelé de saias’”. As americanas ainda elogiam as jogadoras Cristina, Formiga e Pretinha. A última foi companheira de Abby no time Washington Freedom.

A atacante Abby Wambach na capa de sua autobiografia. (Foto: Reprodução)
A atacante Abby Wambach na capa de sua autobiografia. (Foto: Reprodução)

Em suas autobiografias, Carli e Abby relembram várias das vitórias e derrotas em jogos contras as brasileiras, entre eles o 1 a 0 na final dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, que garantiu a terceira medalha de ouro na modalidade para os Estados Unidos, e a semifinal da Copa do Mundo de 2007, também na China, quando as americanas foram goleadas (4 a 0) pelas brasileiras.

Nas Olimpíadas de Pequim, Marta quase marcou um gol aos 72 minutos do tempo regulamentar, mas seu torpedo foi impedido pela goleira Hope Solo. Carli descreve aquele momento como “talvez a melhor defesa de uma goleira na história dos Jogos Olímpicos”. Também lembra a reação da atacante brasileira: “Marta, eleita a melhor jogadora do mundo, tipo umas cem vezes, parecia não acreditar naquilo, enterrando seu rosto por entre as mãos”.

A goleira Hope Solo, a jogadora de futebol mais controversa do mundo, amiga de Carli e desafeto de Abby, protagoniza o drama central da goleada brasileira na cidade de Hangzhou, em 2007. Naquela ocasião, o técnico do time americano, Greg Ryan, insatisfeito com o desempenho de Hope, tomou uma decisão que Carli descreve como “sem precendentes numa Copa do Mundo”: mandou  a titular para o banco e escalou Briana Scurry, que estava sem jogar oficialmente pelo time há três meses e próxima de anunciar sua aposentadoria. “A explicação de Ryan foi a de que Brianna era uma ótima e também superior bloqueadora de bolas, e que tinha um brilhante histórico de defesa em jogos contra o Brasil”, escreve a meio-campista.

Hope, ainda segundo Carli, ficou “espumando” e “destruída” com a decisão. “Ela ficou mais possessa ainda quando descobriu que Lilly e Abby fizeram lobby para que houvesse a troca”. Sobre a partida, considerada a pior derrota do time americano dentro de Copas do Mundo, Abby a descreve como “um desastre do começo ao fim”.

Abby, que se aposentou no ano passado, fala abertamente em seu livro sobre sua homossexualidade e as dificuldades de crescer numa família conservadora de católicos irlandeses. “Achava que, se jogasse bem, minha mãe iria me perdoar por ser quem eu sou.”, escreve a atacante.