Em entrevista à Time, Dilma Rousseff diz que impeachment é misoginia política

Marcelo Bernardes

Em entrevista à revista americana Time desta semana, a presidente afastada, Dilma Rousseff, diz que seu processo de impeachment foi “um golpe parlamentar” e uma atitude política “misógina”. “O fato de uma mulher se tornar presidente dá espaço para uma avaliação que é muito comum, muito estereotipada. Que mulheres são histéricas e, quando não são histéricas, são calejadas, frias e insensíveis. De um lado, fui pintada como uma pessoa fria, dura e insensível. De outro, como uma pessoa histérica,” disse Rousseff à publicação.

A presidente afastada explicou à revista que “o golpe parlamentar” é “um processo que está afetando as instituições, corroendo-as por dentro e contaminando-as”. Rousseff diz que que “a luta” requer “uma arma”: “a arma é o debate, esclarecimento e diálogo”.

Em edição com reportagem especial sobre as Olimpíadas do Rio, a Time publicou uma entrevista com nove perguntas para a presidente afastada e também disponibilizou trecho do vídeo em seu website. Rousseff posou para a publicação em Brasília.

Dilma Rousseff respondeu nove perguntas e posou para a revista Time. (Foto: Luisa Dorr/VII Mentor Program/Time)
Dilma Rousseff respondeu nove perguntas e posou para a revista Time. (Foto: Luisa Dorr/VII Mentor Program/Time)

Rousseff diz que vai continuar a lutar contra o impeachment “sistematicamente”. Ela diz ao repórter que travou batalhas contra a tortura e o câncer. “Lutei e sobrevivi bem”.

Perguntada se o Brasil pode voltar a ter relevância mundial, Rousseff diz ser otimista. “Todos os países do mundo sobreviveram a crises, muito bem antes de nós. O Brasil tem condições de assumir um papel maior no mundo”. Ela também foi perguntada se assume responsabilidade pela crise econômica. Rousseff responde que a crise política “acelerou” os problemas econômicos. “A crise política colocou o Brasil em recessão,” disse.

Sobre o fato de não comparecer à abertura da Rio-2016, Rousseff explicou: “Fui eleita presidente com 54.5 milhões de votos. Eles estão me convidando para participar dos Jogos Olímpicos numa posição bastante secundária. Eu não vou interpretar um papel que não corresponde ao meu status presidencial”.