Vazamento do Wikileaks complica apoio de celebridades à Hillary Clinton
Durante a campanha presidencial de Hillary Clinton, candidata do partido Democrata, a música “Roar”, de Katy Perry, foi frequentemente executada em seus comícios. Perry não só autorizou o uso de seu trabalho (evitando situações constrangedoras como as experimentadas pelo concorrente Donald Trump, que se apoderou, sem ter permissão, de músicas de Adele e das bandas Aerosmith, Rolling Stones e R.E.M., entre outros que reclamaram do “furto”), como ela também cantou num comício de Clinton no estado americano de Iowa. Não é à toa que Perry, que apareceu vestindo uma camiseta com a frase “Hillary Clinton is a badass” (Clinton é fodona), já anunciou em sua conta no Twitter que vai estar presente na convenção dos democratas na Filadélfia, que começa amanhã (25) e oficializará a candidatura de Clinton pelo partido.
No quesito celebridades, a convenção dos democratas vai dar de dez a zero na dos republicanos, encerrada quinta-feira (21), em Cleveland. Nesta última, o candidato Trump só conseguiu convencer atores B como Scott Baio e Antonio Sabàto Jr. para discursarem. Quem? Exato.
Até o momento, o “line-up” de Clinton inclui as atrizes Lena Dunham, America Ferrera (duas democratas atuantes), Eva Longoria, Debra Messing, e os jogadores de basquete (ambos aposentados das quadras) Kareem Abdul-Jabar e Jason Collins, primeiro atleta abertamente gay da NBA, a liga do basquete americano. A lista segue com presidente Barack Obama, Andrew Cuomo e Bill de Blasio, respectivamente governador do estado e prefeito da cidade de Nova York, além do ex-presidente Bill Clinton e da “primeira-filha”, Chelsea Clinton.
Mesmo que Clinton seja a candidata “oficial” de Hollywood (George Clooney organizou um jantar para arrecadar fundos para a campanha dela em abril, e o manager musical Scotter Braun, que cuida das carreiras de Justin Bieber e Usher, faz um outro no dia 6 de agosto), nem todo mundo está pulando no barco da candidata. Tudo porque boa parte de Hollywood estava no time da estrela-revelação do partido nesta eleição: o senador por Vermont Bernie Sanders, pré-candidato cujas ideias socialistas empurrava a agenda dos democratas mais para a esquerda, longe de Wall Street, grupo do qual Clinton não consegue desvencilhar-se.
“Não vou apoiá-la”, disse recentemente a atriz Susan Sarandon, simpatizante de Sanders, sobre a candidatura Clinton. A atriz Rosario Dawson, outra que apoiou Sanders, indo a vários comícios do candidato, ainda não se manifestou se vai fazer campanha para Hillary Clinton. O ator Mark Ruffalo e a comediante e atriz Sarah Silverman também estão em cima do muro.
O apoio dos “sanderistas” famosos – e também da vasta leva de votantes americanos afiliados ao partido – tornou-se ainda mais complicado (e complexo) com o fato de que, na sexta (22), o Wikileaks vazou cerca de 19.000 emails, muitos vindo alta cúpula do Comitê Nacional Democrata, tentando sabotar a campanha de Sanders, com dicas, rumores, piadinhas e sugestões de ângulos de cobertura jornalística (tudo em estilo confidencial, “off the record” ) para a rede CNN e publicações como The Wall Street Journal e The Washington Post, além do website Politico.
Entre os dirigentes do partido Democrata, estava sua presidente, Debbie Wasserman Schultz, que sugeriu a jornalistas que fizessem uma matéria sobre “o caos” da campanha (na verdade, bem dirigida) de Sanders. Outro dirigente, sem mencionar Sanders pelo nome, pediu para que assessores tentassem questionar as convicções religiosas do candidato. Apesar de o partido Democrata dizer que sempre esteve neutro na pré-corrida presidencial, a campanha de Sanders acusou o partido de organizar os debates de seus candidatos nas noites de sábado, dia em que a audiência cai pela metade. Na tarde de hoje (24), Wasserman Schultz pediu demissão do cargo, na tentativa de minimizar o escândalo antes do início da convenção.
Vai caber a Bernie Sanders, que discursará amanhã (24) na Filadélfia (ele sobe no palco antes da primeira-dama Michelle Obama), apaziguar os ânimos de sua legião de simpatizantes. Uma coisa ele não deverá fazer: trair Clinton da mesma forma que o pré-candidato Ted Cruz (senador pelo Texas) fez com Trump na convenção Republicana. Cruz só não endossou o candidato oficial do partido em seu discurso, como também pediu para o público votar ” com a consciência”. Ele foi vaiado pelos “trumpistas” antes de deixar o palco.
Trump, por sua vez, vem usando o Twitter desde sexta, e mais o espaço dado pela TV nos shows sobre política deste final de semana, para cutucar com vara curta o mini-escândalo divulgado pelo Wikileaks e também pelo fato de Clinton ter escolhido Tim Kaine, senador pela Virgínia, para ser o parceiro de chapa dela, como vice-presidente. “O fato de Hillary ter escolhido Tim Kaine foi um tapa na cara de Sanders e de todos (simpatizantes dele). Eu fiquei chocado”, disse Trump hoje no programa “Meet the Press”, da rede NBC.