Seriado apresenta teoria para a ‘falta de miolos’ dos políticos americanos
Na primeira cena de “BrainDead” (Morte Cerebral), novo seriado do casal de produtores e roteiristas Robert e Michelle King, criadores do recém-encerrado e popular “The Good Wife”, e exibido segunda (13) na TV americana, a tela mostra a zorra em que se transformou a primeira fase da atual corrida à Casa Branca. Simultaneamente, a TV exibe discursos raivosos dos pré-candidatos Donald Trump (Partido Republicano), Hillary Clinton e Bernie Sanders (do lado democrata). São ataques pessoais, comentários racistas e muita demagogia. Em 2016, diz uma frase de alerta que surge na tela, “existe um sentimento gradativo de que as pessoas (em Washington) estão perdendo a cabeça”. E o casal King apresenta a causa: insetos estão comendo os miolos dos políticos americanos.
Esses insetos, que invadem a capital americana, vieram do espaço. Não via nave espacial. A chegada deles toma emprestado um acontecimento que realmente aconteceu em fevereiro de 2013. Tudo documentado em posts no YouTube e assistido por milhares. Um meteorito cortou o céu da Rússia e uma rocha de um metro e meio de diâmetro foi parar no fundo do lago Chebarkul, na região da cidade de Chelyabinsk. Durante o traslado (fictício) para os Estados Unidos, onde ia ser analisada, a rocha libera os tais comedores de cérebro.
“BrainDead” é um seriado três-em-um: parte comentário político, parte comédia, parte ficção-científica. Trata-se de um casamento entre “Veep”, “Walking Dead” com os noticiários da CNN. O primeiro dos 13 episódios totais do programa é fraco e menos dinâmico na parte da sátira política. “Veep”, com Julia-Louis Dreyfuss como a vice-presidente americana inexpressiva que se torna líder da nação, dá de 10 a zero. Mas a história é curiosa e original o suficiente para que o espectador continue assistindo.
A atriz Mary Elizabeth Winstead (do filme “Rua Cloverfield, 10”) interpreta Laurel Healy, cineasta que perde o investimento durante a preparação de um documentário sobre um coral de música religiosa nas Ilhas Salomão. O pai promete levantar o dinheiro para as filmagens, desde que ela se mude de Los Angeles para Washington e, por seis meses, trabalhe no gabinete do irmão Luke (Danny Pino), um senador democrata.
Já em suas primeiras 24 horas na capital americana, a documentarista lida com a maior crise política da cidade. Democratas e republicanos discordam sobre o orçamento da união e um shutdown (paralisação) deixa 100 mil funcionários públicos sem trabalho e pagamento. Gareth (Aaron Tveit), chefe do gabinete do ultra-conservador senador republicano Wheatus (Tony Shaloub) apresenta solução para conter o impasse: Laurel tem que convencer o irmão democrata a apoiar um projeto de US$ 48 milhões para estudos sobre o autismo.
O democrata acaba aceitando mas, na véspera dos dois partidos assinarem acordo e colocar um ponto final no gridlock político, os insetos alienígenas invadem o apartamento do senador republicano. Eles entram por uma orelha e empurram o cérebro dele por outra, até o órgão cair no travesseiro e rapidamente virar líquido gosmento e alaranjado. De beberrão e demagogo, o agora desmiolado senador Wheatus fica saudável, se libertando do alcoolismo. Ele também passa a ficar focadíssimo, mais implacável e maquiavélico em suas armações políticas. E o acordo vai para o brejo. Desconfiados de que as pessoas em Washington estão bem estranhas, ambos Laurel e Gareth decidem investigar o que está acontecendo.
Como “The Good Wife”, “BrainDead” também conta com produção-executiva do cineasta inglês Ridley Scott, um dos mestres do sci-fi moderno. A série é uma homenagem a um dos maiores clássicos da ficção-científica de Hollywood: “Vampiros de Almas”, dirigido por Don Siegel em 1956, e que teve três remakes, o último deles, “Invasores”, de 2007, foi fiasco dirigido pelo cineasta alemão Oliver Hirschbiegel e estrelado por Nicole Kidman e Daniel Craig. Em entrevista ao jornal USA Today de segunda (13), Shaloub comentou a mensagem trazida por “BrainDead. “Acho que o seriado ilumina o problema do extremismo na política. Como uma nação, temos que encontrar um jeito de reconciliar e remediar isto”.