Última noite do criador de ‘Hamilton’ na Broadway bate recordes

Marcelo Bernardes

Na noite de 9 de julho, um sábado, o ator e compositor Lin-Manuel Miranda vai encerrar sua participação em “Hamilton”, atual musical-fenômeno da Broadway que ele começou a escrever em 2014 depois de comprar, numa banca-livraria de um aeroporto de Nova York (rumo a Porto Rico, onde mora sua família), uma biografia de Alexander Hamilton (1755/ou 1757 – 1804). A vida do primeiro secretário do tesouro americano (no governo do presidente George Washington), cujo rosto foi imortalizado na nota de 10 dólares, é contada via estilo hip-hop e com elenco predominantemente formado por atores latinos e negros.

Para sua derradeira apresentação no papel que levou o presidente Barack Obama à assistir “Hamilton” três vezes (uma apresentação-especial na Casa Branca e as outras duas em Nova York), Miranda vai ter a distinção de comandar a noite mais cara da história da Broadway. No mercado paralelo, fãs estão pagando até US$ 6 mil por um ingresso para a apresentação de 9 de julho. Até quarta-feira passada, o ingresso mais barato comercializado por cambistas (ou algum sortudo com ingresso na mão, e procurando ganhar dinheiro fácil) estava na casa dos US$ 2.400. “O fato de que a última apresentação de Miranda está gerando ingressos com média de US$ 5 mil é incrível. Nunca se viu nada igual na Broadway”, disse o dono de uma empresa que vende ingressos teatrais em entrevista ao The New York Post, jornal que, por ironia, foi criado, em 1801, por Alexander Hamilton.

Lin-Manuel Miranda deixa o musical "Hamilton" em 9 de julho. (Foto: Divulgação)
Lin-Manuel Miranda deixa o musical “Hamilton” em 9 de julho. (Foto: Divulgação)

O preço oficial de um ingresso VIP para um musical da Broadway, com direito a cadeiras nas primeiras filas, pode chegar a US$ 500. “The Book of Mormon”, outro musical fenômeno recente da Broadway, detinha, até a semana passada, o recorde do ingresso oficial mais caro: US$ 477. “Hamilton”, por sua vez, vinha em segundo lugar com US$ 475. Mas ingressos oficiais para “Hamilton” são raros de se encontrar, e o público vem pagando uma média de US$ 849 (via mercado paralelo) por um ingresso. Fãs do show e espectadores que querem assistir ao espetáculo pela primeira vez, chegam a pagar até US$ 1.300 por um ingresso. Em certas noites, esse valor só se aplica a assentos no fundão (e com visibilidade menos generosa) do teatro Richard Rodgers, na rua 46, onde o espetáculo fica em cartaz sem data para terminar, mesmo com a saída de seu titular e criador.

Muitos desses ingressos (em sua maioria oferecidos via internet) são falsos. No final do mês passado, o bilionário Chris Sacca, investidor pesado em companhias tecnológicas como Twitter, Instagram, Uber e Kickstarter, foi vítima dessa fraude. Depois de comprar dois ingressos, via o site StubHub, ele voou da California para Nova York, apenas para ser barrado na porta do Richard Rodgers. Segundo colunas sociais, o empreendedor criou confusão no saguão do teatro, até apelando para um “você sabe quem eu sou?”. Mas sem sucesso.

Na terça (7), Manuel-Lin Miranda escreveu um texto para as páginas de opinião do jornal New York Times cobrando uma legislação mais vigorosa do governo do estado de Nova York contra as empresas que se utilizam legalmente do software “ticket bots”, que compra rapidamente (e em grandes quantidades) ingressos para a Broadway, assim que eles são disponibilizados na internet. Vale lembrar também que, todas as noites (e nas matinês de quartas e sábados), 46 sortudos, não só sentam nas duas primeiras filas do teatro para assistirem à “Hamilton”, como pagam apenas US$ 10 (valor de dois Big Macs) por um ingresso. As inscrições para a loteria de “Hamilton” podem ser feitas no teatro, duas horas antes de o espetáculo começar, ou online.

Alexander Hamilton: de primeiro secretário do tesouro americano à ídolo hip-hop. (Foto: Divulgação)
Alexander Hamilton: de primeiro secretário do tesouro americano à ídolo hip-hop. (Foto: Divulgação)

Miranda, que recentemente recebeu o prêmio Pulitzer por “Hamilton” e três indicações-solo para o Tony (melhor ator, compositor e letrista), de um total de 16 (recorde da história da premiação, considerada o Oscar da Broadway), vai continuar, após sua saída, a supervisionar “Hamilton” à distância. É possível ainda que Miranda também faça aparições esporádicas, embora nada tenha sido confirmado oficialmente.

Nos próximos meses, Miranda estará ocupado com as filmagens de “O Retorno de Mary Poppins”, que o estúdio Disney lança em 2018. Ele vai interpretar o papel de Bert, feito no original de 1964 pelo ator Dick Van Dyke. A atriz inglesa Emily Blunt assume o papel da mais famosa babá do cinema, tentando não fazer feio ao trabalho da titular Julie Andrews. Miranda também assina as músicas do desenho da Disney “Moana”, que estreia em novembro. E seu musical “In the Heights”, lançado off-Broadway em 2007 e sucesso de crítica antes do fenômeno de “Hamilton”, vai virar filme produzido pela companhia de Harvey Weinstein.