Rio-2016: Brasil está bem baixo astral, diz âncora americano
“Fala para a gente sobre o Rio. Estamos ouvindo algumas coisas terríveis dai”, perguntou Billy Bush, co-apresentador do programa matutino “Access Hollywood Live”, transmitido de Los Angeles, ao famoso comentarista esportivo americano Bob Costas, há dois dias no Brasil, sentado numa cadeira com a praia de Copacabana ao fundo. “O país está enfrentando vários problemas e se encontra bem baixo astral”, respondeu Costas, chefe da cobertura jornalística olímpica da rede NBC desde os Jogos de Barcelona, em 1992. “Todo mundo no Rio está estampando sua melhor cara. Os dedos estão cruzados. Vão ser três semanas de uma longa festa, se algo do lado escuro não interferir”.
Foi com grande apreensão em relação à crise que o país atravessa (e com problemas enumerados em estilo “power point”), elogios à beleza natural do Rio (“talvez um dos melhores cenários para uma Olimpíada”, disse Costas), entrevistas com medalhistas olímpicos americanos (e algumas mamães de atletas) e uma apresentação sem emoção de passistas, que a rede NBC, que detem os direitos exclusivos da transmissão da Rio-2016 em solo americano, começou nesta quarta (27) a contagem regressiva dos 100 dias que separam a abertura dos Jogos.
“Prever o fracasso de uma Olimpíada, mesmo antes de ela começar, quase que se tornou uma modalidade olímpica. Mas, no caso do Rio, existem, de fato, sérios problemas enfrentados, e não se tem certeza total de que eles estarão solucionados quando a pira olímpica for acesa”, disse Costas, em entrada ao vivo para o programa “Today Show”, noticiário matutino apresentado de Nova York pelos âncoras Matt Lauer e Savannah Guthrie.
A contagem regressiva para os Jogos Olímpicos começou às 7h da manhã (8h no horário de Brasília) desta quarta, quando Savannah Guthrie, do “Today Show”, anunciou que a “Rio-2016 está destinada a ser espetacular”. Por sua vez, o co-âncora Matt Lauer fez chamadas sobre sua entrevista exclusiva com o maior medalhista da história dos Jogos, o nadador Michael Phelps, que coleciona 22 delas, sendo 18 de ouro, e poderá ser (no Rio) o mais velho nadador a ganhar uma medalha de ouro.
Do Rio, Costas falou sobre os problemas que o Brasil enfrenta: “baderna política que pode levar a líder da nação ao impeachment”, economia em crise, epidemia do vírus da zika e a qualidade da água do mar, “que pode ser um grande problema para as provas de iatismo“.
Passistas comportadas sambaram na praça em frente ao prédio do Rockfeller Center, centro de Manhattan, onde ficam os estúdios da NBC; atletas americanos como o nadador Ryan Lochte desfilaram seu uniforme “beach chic” criado pelo designer Ralph Lauren, e a modelo brasileira Camila Alves, ensinou a fazer um prato de frango desfiado com arroz, especialidade da mãe dela.
Em blocos mais sérios, a crise brasileira foi explicada da melhor forma didática possível e com clipes do pontos turísticos do Rio, que incluíram até uma gafe: ponta da Avenida Paulista no horário do rush. “(o Brasil) tinha todos os ingredientes certos: uma grande população e as commodities prosperando, e ai veio a crise do petróleo, jogando o país em sua pior recessão dos últimos 25 anos”, disse Kelly Evans, comentarista econômica da rede CNBC, emissora parente da NBC.
Coube à escritora e jornalista da Associated Press Juliana Barbassa, autora do livro “Dancing with the Devil in the City of God”, explicar os problemas de saneamento básico, da epidemia do vírus da zika e do possível impeachment da presidente Dilma Roussef. “Não sabemos se a presidente estará no poder durante a cerimônia de abertura das Olímpiadas. Então é com muita apreensão que os brasileiros esperam pela Rio-2016”, disse Barbassa.
Em nota positiva, o comentarista Costas explicou que os principais ginásios esportivos já estão prontos e alguns já foram testados e que as obras de transporte público da cidade “estão nos trilhos”. Costas apontou para o público americano que todos os olhos estarão voltados para três atletas: o velocista jamaicano Usain Bolt, a ginasta sensação dos EUA Simone Biles e Michael Phelps. Perguntado sobre os preparativos da cerimônia de abertura da Rio-2016 e qual a sua favorita de todos os tempos, Costas respondeu que foi a de Pequim, em 2008. “O que (o cineasta) Zhang Yimou fez foi espetacular. É claro que um orçamento ilimitado e um governo totalitário que conseguiu reunir 30 mil extras para fazer ‘de bom grado’ um trabalho ‘voluntário’ ajudaram muito. Mas aquilo foi cinematográfico, além do conceito de espetacular. Nenhum país conseguirá superar aquela abertura”.
Os noticiários do final de tarde da rede NBC colocaram mais passistas para sambar na rua, desta vez na região da Times Square, depois da passagem da primeira-dama Michelle Obama pela região para dar o pontapé inicial da campanha da equipe olímpica americana e posar com atletas que vem ganhando a atenção da mídia, como a esgrimista americana de origem muçulmana Ibtihaj Muhammad que vai defender o país na modalidade.
No telejornal carro-chefe da rede NBC, o “Nightly News”, os “power points” da crise brasileira foram repetidos. Dessa vez, com uma entrevista conduzida por Costas na tarde de hoje, no Rio, com o jogador Pelé. “Este é um momento muito, muito importante para que tenhamos sucesso”, disse o craque.