Casa de “Psicose” é construída em bairro do 1% nova-iorquino
No cinema, em sua versão clássica de 1960 (e no remake “cena-por-cena” feito em 1998), e na televisão, aparecendo semanalmente desde 2013, a casa da senhora Bates, a mamãe do famoso psicopata Norman Bates, criado pelo cineasta Alfred Hitchcock, fica no topo de uma pequena colina, com vista para uma estrada secundária e deserta. O estacionamento do Hotel Bates, aos pés da construção, é de asfalto poroso, com pequenos buracos que criam um mini lodaçal em dias chuvosos. Quando não está espiando os hóspedes por um buraco feito na parede, Bates costuma servir a clientela com leite morno. Mini-bar nunca foi uma opção no local sinistro.
Em sua nova encarnação, a casa do filme “Psicose” foi construída num dos metros imobiliários mais caros do planeta. Ela está rodeada por árvores e tem como vizinhos o 1% de Nova York, ou seja, os bilionários moradores da Quinta Avenida, na região acima da rua 59. Em tardes de sexta e sábados ensolarados, quem pagar US$ 15 pode andar na frente da casa tomando um coquetel batizado de “Amor de Mãe”, um dos cinco drinques, entre sangria e martini, criados especialmente para a ocasião.
Desde o dia 19, o Museu Metropolitan de Nova York está exibindo em sua cobertura vislumbrando todas as direções do Central Park, a instalação “Transitional Object (PsychoBarn)” (Objeto de Transição: Celeiro Psicótico), criada pela artista inglesa Cornelia Parker, 59. A casa de 7.5 metros de altura, com mansarda (o cômodo situado numa abertura do telhado), é toda de madeira vermelha. A construção não tem vergonha de mostrar seus fundos, de onde se pode ver que apenas dois lados foram finalizados. O público que for espiar atrás da casa poderá ver os andaimes de metal e os grandes tanques cheios de água para que a estrutura não saia voando como a casa de Dorothy, em “O Mágico de Oz”, nos dias de grandes tempestades causadas pelo tórrido verão nova-iorquino.
Em suas obras mais famosas, a artista Cornelia Parker, que se autodefine mais como escultora, chamou a atenção por destruir e reconstruir edifícios. Em 1991, com “Cold Dark Matter: An Exploded View” (Matéria escura e fria: uma visão explodida), ela explodiu um galpão de jardim e pendurou cuidadosamente peça por peça, como comentário político à situação da Irlanda do Norte na época. Em 2005, com “Anti-Mass” (A Anti-Missa) foi a vez de ela pendurar os destroços de uma igreja frequentada por devotos negros americanos, totalmente aniquilada após um incêndio.
Ao ser procurada pelo Museu Metropolitan para o projeto especial da famosa instalação anual de verão no terraço de cobertura da instituição, Cornelia teve a ideia de construir, do zero, um celeiro vermelho inteiro no telhado do museu. “Mas depois descobri o quanto grande vem a ser um celeiro”, disse a artista em coletiva à imprensa na manhã de segunda (18). Ela resolveu então, com a ajuda de oito assistentes, construir só a fachada da casa.
O específico corte de madeira utilizado na obra foi tirado de um celeiro que seria demolido na rural Schoharie, cidadezinha da região das florestas de Catskills, interior de Nova York. Ele depois foi montado num galpão no bairro do Queens, a 20 minutos do Metropolitan.
Cornelia cresceu em área rural da Inglaterra e chegou a morar na cidade natal de Hitchcock, Leytonstone, antes de o cineasta se mudar para Hollywood. A artista sempre foi fascinada pela ideia de uma Nova York rural. Tanto Parker quanto Hitchcock foram inspirados pelo quadro “Casa à Beira da Ferrovia”, pintado em 1925 por Edward Hopper. Hopper, por sua vez, foi inspirado pelas construções do estilo Segundo Império e baseou sua tela numa casa da cidade de Nyack, a 45 minutos do centro de Manhattan. A instalação de Cornelia Parker fica em cartaz até 31 de outubro de 2016, a noite do Halloween.