Louis C.K. acerta novamente ao produzir comédia de palhaço deprê

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Marcelo Bernardes

Renoir é o nome do palhaço. Nasceu na Califórnia, mas, ao atingir a idade do lobo, foi estudar na “académie” de clowns na capital francesa. Quis aprender a essência artística de um “bouffon”, incluindo a romântica sutileza de escorregar na casca de uma banana. O professor não foi com a cara do americano e o apelidou, humilhando-o na frente de outros alunos, de Le Ronald McDonald. Sem um tostão furado no bolso, uma moto importada e uma noiva francesa que se acha a gostosa, o palhaço volta, fracassado, para a cidade interiorana e “ensolarada” de Bakersfield. Aspira ser um artista puro, mas acaba indo fazer bico como palhaço num show de rodeio, pagamento US$ 4 por hora. O gerente vai logo lhe avisando: “não tem nada melhor (para a plateia) do que um palhaço caindo no chão inconsciente, depois de levar uma chifrada de um touro”.

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Falido, Chad Baskets (Zack Galifianakis) aceita fazer um bico como palhaço de um show de rodeio (Foto: Ben Cohen/FX)

“Baskets”, nova série da rede F/X, lançada na noite de quinta, 21, é uma produção dos comediantes Louis C.K. (“Louie”), Zack Galifianikis (de cinessérie de Hollywood “Se Beber, Não Case”) e Jonathan Krisel (diretor e co-autor de “Portlandia”). Galifianikis também assume o papel principal do palhaço Chip Baskets, aquele que gostaria de ser chamado de Renoir.

Como em “Louie”, o protagonista Baskets tem problemas em aceitar a dureza da maturidade. É também um programa de humor naturalista e melancólico. Mas os criadores exageram na medida do último condimento: “Baskets” é mais deprê do que “rs”. Mas isso não é totalmente uma má notícia. Como bem definiu o crítico do jornal “The Los Angeles Times”, “trata-se de um sitcom sombrio e estranhamente belo”.

Galifianikis não é um ator carismático. Seus personagens no cinema costumam ser neuróticos, barulhentos, amargos e arrogantes. A vida imita a arte? Ao ver suas aparições públicas e ao entrevistá-lo, parece que sim. Como Baskets, ele repete a personalidade azeda. E não está sozinho na série. Baskets tem um irmão gêmeo, também interpretado pelo ator, em tom afeminado e com sotaque cantado do sul americano. O segundo Baskets é dono de uma escola vocacional e um pouco mais bem sucedido financeiramente.

A cantora francesa Penelope ( ) se muda com o palhaço para os EUA apenas para conseguir cidadania americana. (Foto: Bem Cohen/FX)
A francesa Penelope (Sabina Sciubba) se muda com o palhaço para os EUA apenas para ganhar o green card. (Foto: Ben Cohen/FX)

O elenco de apoio faz jus à sua definição, e dá uma grande mão ao sitcom. A francesa Penelope (Sabina Sciubba) é categórica: se mudou para a Califórnia apenas para obter o green card e, se possível, um homem mais bonito e gostoso que o palhaço que a importou. Superatraído por Penelope, Baskets faz de tudo para agradá-la, até se humilhar para conseguir US$ 40 emprestado para que a futura esposa possa assinar o serviço da emissora a cabo HBO.

O ator Louie Anderson, em drag, interpreta a mãe do palhaço. (Foto: Frank Ockenfels/FX)
O ator Louie Anderson, em drag, interpreta a mãe do palhaço. (Foto: Frank Ockenfels/FX)

A mamãe dos Baskets, Christine, é inusitadamente interpretada pelo ator Louie Anderson (de “Life with Louie”), aqui totalmente em drag. A surpresa de elenco fica por conta da comediante de stand-up Martha Kelly, novata no ramo de atriz, que interpreta uma agente de seguros com atitude pra lá de otimista em relação à vida. Ela conhece o palhaço depois deste se acidentar enquanto pilotava sua moto francesa. Mesmo sendo motivo de chacotas por seu estilo sem estilo nenhum de se vestir, Martha consegue arrancar um certo humanismo do palhaço. É quando o sitcom fica ainda mais interessante.

Em sua estreia como atriz, comediante Matha rouba a cena em "Baskets". (Foto: Frank Ockenfels/FX)
Em sua estreia como atriz, comediante Martha Kelly rouba a cena em “Baskets”. (Foto: Frank Ockenfels/FX)

 

Leia aqui sobre outra ótima série da nova temporada da TV americana, o drama do mundo das finanças “Billions”.