Malta, temos um problema! Filme fiasco de Angelina Jolie chega ao Brasil
Na terça-feira (1), quem entrasse em um dos 142 cinemas americanos exibindo o filme “À Beira Mar”, escrito, produzido, estrelado e dirigido por Angelina Jolie Pitt (ela assina assim, usando o sobrenome do marido, o ator Brad Pitt), experimentaria uma espécie de sessão-privê. Ou para os mais realistas: cinema às moscas. Com média de arrecadação em torno de US$ 75 (R$ 287) por sala de cinema e preços de ingressos com média nacional de US$ 8.38 (R$ 31), a matemática é simples: nove espectadores compareceram ao cinema.
“À Beira-Mar” chega hoje (quinta, 3) aos cinemas brasileiros sem a grande responsabilidade de que sua arrecadação, somada a de outros países, seja usada para aliviar a cacetada que estúdio Universal levou em casa. Nem daria. O estúdio jamais vai recuperar o investimento, oficialmente divulgado como sendo de US$ 10 milhões. A revista “The Hollywood Reporter” diz que o valor é ingênuo. Segundo a publicação, o custo total foi de US$ 40 milhões: US$ 25 milhões para as filmagens, e o restante na promoção dele. Até o momento, um total de US$ 498 mil foi somado na bilheteria americana. Antes de sumir das telas, o filme não vai nem chegar perto de US$ 1 milhão de faturamento.
Embora filmado em Malta, a ação do filme se passa numa pacata cidade praiana da França, no começo da década de 70. Angelina e Pitt interpretam artistas. Ela, uma ex-dançarina deprimida. Ele, um escritor que vem enfrentando bloqueio mental. O casamento deles está implodindo. O filme foi considerado pelos críticos com tedioso, lânguido, narcisista, uma espécie de sub-Antonioni. “Eles fazem duas horas e meia de filme parecerem cinco horas”, escreveu um repórter do “The New York Times” em artigo sobre artistas que, como Angelina e o ator Shia LaBeouf, flertam com o “narcisismo-culpado”, aquele em que o período de adoração é, mais tarde, neutralizado e se transforma em auto-punição, com eles tentando esconder-se dentro de uma sacola de papel (no caso de Shia, uma descrição literal). Não se pode deixar de notar que o filme dela também teve defensores que chamaram a produção de valente, poética e de bela fotografia.
Para o estúdio Universal, o filme foi visto como um “projeto-favor”, prática que costuma ser empregada – e o dinheiro liberado – quando o ator em questão é uma grande estrela internacional como George Clooney, Sandra Bullock e Will Smith. A mentalidade é: “você produz meu projeto querido e eu faço o seu blockbuster de verão sem reclamar”. No caso de Angelina, ela está atrelada a dois grandes projetos do estúdio, uma releitura de “A Noiva de Frankenstein” e a sequência de “O Procurado”, filme de ação que ela rodou em 2008 com o cineasta cazaque Timur Bekmambetov.
Com Angelina ninguém folga. Ela costuma manter controle, rédeas curtas, sob seu trabalho e imagem, delegando menos responsabilidades possíveis a seus assistentes. Não são raras as situações em que a atriz até responde diretamente emails de jornalistas e fotógrafos. Ela também não é covardona. É uma das poucas estrelas que assumem responsabilidade direta por sucessos e fracassos. Ninguém pode se esquecer de que a Disney encheu seus cofres, no ano passado, com “Malévola”, filme estrelado pela atriz e que rendeu US$ 758 milhões no mundo todo.
Não é difícil, porém, culpar Angelina pelo fracasso de “À Beira Mar”. Filmes ruins também tendem a ser tornar sucessos, se brilhantemente marketados. A atriz quis vender seu filme como um projeto pessoal, um filme de arte europeu. O estúdio editou o primeiro trailer promocional. Ela vetou e, com sua pequena equipe, fez versões para os cinemas e anúncios menores para TV, cometendo o erro de camuflar o sex appeal dos protagonistas e exarcebar aquele lado sub-Antonioni já citado.
Mas talvez a decisão mais equivocada tenha sido em relação ao pôster do filme. O oficial mostra apenas dois chapéus em cima de um muro. Uma segunda variação, apresenta imagem distorcida de Angelina e um banner com uma foto de Pitt. Uma repórter do site “Deadline Hollywood” disse que o ator estava parecendo mais como o Bryan Cranston. “Se você tem duas das estrelas de cinema mais sexy do planeta, você quer utilizá-las no pôster”, disse Paul Dergarabedian, expert em análise dos números da bilheteria, ao “The Hollywood Reporter”.
A fórmula promocional funciona quase sempre com regras exatas. Em “Sr. e Sra. Smith”, o primeiro filme em que Angelina e Pitt rodaram juntos, e, em cujas filmagens, o romance deles brotou, a dupla apareceu lado a lado no pôster. O filme arrecadou quase US$ 500 milhões mundiais. Para o Universal, o fracasso de “À Beira Mar” nem é de tão desastroso, uma vez que o estúdio produziu neste verão três filmes de enorme sucesso, que superaram todas as expectativas na bilheteria: “Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros”, “Velozes e Furiosos 7” e “Straight Outta Compton – A História do N.W.A.”
Angelina, sim, vai pagar o pato. Primeiro, ela e o marido assinaram contrato que oferecia um salário (US$ 1.5 milhão) muito abaixo do cachê normal deles, em troca de percentual sob faturamento na bilheteria, dinheiro extra que jamais irá se materializar. Vale lembrar também que a última diretora que torrou dinheirama de estúdio, Elaine May, com “Ishtar”, catástrofe rodada em 1987 com Warren Beatty e Dustin Hoffman, jamais voltou a trabalhar. Em entrevista ao “New York Times”, para promover “À Beira Mar”, Angelina disse: “Sei que algumas pessoas vão odiar. Outras vão gostar. Mas era importante para mim sentir-se como uma artista novamente.”