Lendo Platão, John Malkovich lança primeiro álbum musical
John Malkovich, 61, construiu uma das carreiras mais idiossincráticas do mundo do entretenimento. Ator de mais de 70 filmes, ele também foi expandindo suas ramificações artísticas como cineasta, designer de moda (a grife Technobohemian), poeta, cantor de ópera, além de aparecer em videogames (“Call of Duty”), vídeos musicais (Eminem, AaRON), ensaios fotográficos, e de ter feito participação “meta”, interpretando si próprio, no longa “Quero Ser John Malkovich”, de Spike Jonze. É de se estranhar, então, que o ator tenha demorado tanto para gravar um álbum.
A espera acabou. Malkovich lançou nesta sexta, 27, em Chicago, o álbum “Like a Puppet Show”, somente em formato vinil. O projeto é uma parceria do ator com o compositor e pianista de formação clássica Eric Alexandrakis e o fotógrafo Sandro Miller, amigo de longa data do ator. Ao gravar uma composição ambiental, Alexandrakis teve a ideia de pedir a Malkovich que lesse trechos da história “A Alegoria da Caverna”, parte da obra “República”, do filósofo grego Platão. “John tem essa energia muita poética, intelectual e acadêmica”, explicou o pianista ao site da revista “Rolling Stone”.
As 12 faixas do álbum (três delas disponíveis via o site soundcloud) mais tarde foram mixadas por músicos como Yoko Ono e Sean Lennon, Dolores O’Riordan (da banda The Cranberries), Harry Waters (filho de Roger Waters), Dweezil Zappa, Ric Ocasek (ex-vocalista do Cars), Placebo, OMD, Efterklang e The Dandy Warhols. O trabalho é mais estranho do que os últimos álbuns dos cineastas John Carpenter e David Lynch reunidos.
Na faixa “CryoZolon X”, Zappa fica repetindo: “What the fuck you’re talking about, John Malkovich?” (Que porra é essa que você está dizendo, John Malkovich?”). Em entrevista à última edição da revista “Billboard”, Malkovich recomenda que o álbum seja ouvido enquanto a pessoa estiver “alta” ou dirigindo de noite. “Não o recomendo para ser escutado no dentista,” diz o ator.
O fotógrafo Sandro Miller assina também o projeto visual do álbum, incluindo um video de sete minutos de duração no qual o ator aparece usando roupa militar. A dupla havia colaborado no final do ano passado na exposição fotográfica “Malkovich, Malkovich, Malkovich: Homage to Photographic Masters” (Homenagem aos Mestres da Fotografia), exibida, até janeiro deste ano, em uma galeria de Chicago.
Para a homenagem-título do projeto, Malkovich se transformou em pessoas ou personagens famosos como Che Guevara, John Lennon, Coringa, Simone de Beauvoir e Marilyn Monroe em poses idênticas feitas por retratistas como Alberto Korda, Annie Leibovitz, Robert Mapplethorpe, Diane Arbus, Herbie Ritts, Richard Avedon e Andres Serranos, este último autor da polêmica imagem de Jesus Cristo crucificado e sendo atingido pela urina do fotógrafo. “John é o Andy Warhol contemporâneo, um ícone pop-cultural”, diz Miller.