‘Vanity Fair’ faz perfil do padre que combate escravidão no Brasil
A nova edição da revista “Vanity Fair” publica perfil de Xavier Plassat, 65, o padre francês da ordem dos dominicanos, que há décadas trabalha num projeto da Comissão Pastoral da Terra (CPT) contra o trabalho escravo e a violência agrária na região Amazônica. O título de reportagem, com chamada na capa da revista, é: “Pode um homem de Deus acabar com o tráfico de escravos no século 21?”
A revista afirma que, dados oficiais, apontam que existem 21 milhões de pessoas no mundo trabalhando em alguma forma de cativeiro – de seringueiros no Amazonas, passando por trabalhadores chineses que fabricam objetos de decoração natalina, à babás em Paris. Dados extra-oficiais dizem que esse número pode chegar a 38 milhões.
A “Vanity Fair” afirma que o Brasil, muito mais que outros países, “fez progressos” contra formas de escravidão moderna e que “desponta como líder em agir vigorosamente”. A revista aponta que a guerra contra a escravidão no país apresenta resultados positivos por causa de uma sofisticada rede de informação, leis modernas, mas que o trabalho de Plassat (“embora ele negue”) é talvez a principal razão disso. A publicação diz que Plassat “se tornou um dos mais influentes estrategistas anti-escravidão de nosso tempo”. A reportagem também chama a atenção ao fato de que existe uma “estagnação” no momento no trabalho que ele desenvolve.
Escrito por William Langewiesche, correspondente internacional da “Vanity Fair”, o artigo diz que Plassat não é “nenhum santo”: “ele regularmente se torna impaciente, e muitas vezes pragueja. Ele bebe e fuma, mas em moderação”. O artigo nota que Plassat gosta de dirigir seu carro Fiat em alta velocidade. O padre também tem uma moto Suzuki que usa para fazer o trajeto de 48 quilômetros entre sua casa em Aragominas e o escritório onde trabalha no estado do Tocantins. A rota para o trabalho, segundo a reportagem, deixa o padre “vulnerável a ataques”. “Mas o assassinato de Plassat não poderia se tornar (um caso) obscuro hoje”, diz a revista que aponta que, em Nova York, Washington, Londres e Genebra, o padre é reconhecido como o homem que ajudou a diminuir a escravidão moderna no Brasil.
Plassat tem um time de 32 agentes, a maioria em atividade em vilarejos remotos na Amazônia. A revista acompanha a história de um ex-escravo piauiense liberado pela equipe de Plassat e menciona os projetos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva que ajudaram a causa anti-escravagista.
A reportagem também aponta que a guerra da escravidão no Brasil começou a ficar “estagnada”, principalmente pelo fato de que, no ano passado, o presidente do Supremo Tribunal do Brasil, o ministro Ricardo Lewandowski, deferiu liminar determinando a suspensão da publicação do cadastro de empregadores flagrados com trabalho escravo, conhecida como “lista suja”.
O auditor fiscal do trabalho André Roston, também ouvido pela reportagem, diz que o Grupo Especial de Fiscalização Móvel tem “gastado mais tempo procurando (por escravos) em lugares errados”, além de a organização ter sido vítima de ataques políticos.
Segundo a publicação, nos três últimos anos, houve uma redução considerável no número de trabalhadores que procuram a CPT para pedir ajuda. Ciente do fenômeno, Plassat só “não consegue explicá-lo”. As teorias do padre são de que os trabalhadores podem estar pedindo ajuda a outras instituições, que o trabalho forçado possa ter ido parar em áreas ainda mais remotas do país, ou, numa “explicação satisfatória”, que os esforços da CPT surtiram efeito.