Casal sem firulas doa 850 obras para museus de Nova York e Paris
Visitando o Museu Whitney outro dia, o casal novaiorquino Thea, 73, e Ethan Wagner, 74, pode conferir obras de Richard Prince, Diane Arbus, Christopher Wool e Cindy Sherman andando com muita liberdade por galerias espaçosas. Pela primeira vez, eles não tiveram que se espremer entre as duas pias do artista Robert Gober ou precisar chamar um mestre de obras para derrubar mais uma parede, a fim de abrir espaço para pendurar uma grande tela de Jeff Koons. Há três anos, o casal decidiu doar 850 obras de uma coleção astutamente compilada a partir de 1990 e, boa parte dela, guardada no apartamento deles no bairro do SoHo.
O grosso dessa coleção, 550 objetos, foi dado de presente para o Whitney que, desde sexta-feira, começou a exibir ao público 120 deles na exposição “Collected by Thea Westreich Wagner e Ethan Wagner”, que prossegue até 6 de março de 2016. O restante das obras, em sua maioria de artistas europeus, foi doada para o Centre Pompidou, em Paris, que vai exibi-las a partir de 9 de junho de 2016.
A estreia americana da exposição, que conta com vários dos itens que mais tarde serão despachados em caráter definitivo para Paris, acontece num momento peculiar. Ao apresentar a coleção para a imprensa, na manhã de quarta-feira, Adam Weinberg, diretor do Whitney, apontou que alguns dos artistas representados ali possuem ateliês nos dois bairros da capital francesa afetados pelos ataques terroristas do dia 13 de novembro.
Embora exibições de coleções particulares raramente sejam organizadas em museus de renome mundial por conta de conflitos de interesse, a de Thea e Ethan Wagner ganhou aprovação pelo Whitney, por conta da quantidade de quadros doados ao museu. A abrangência de estilos e da nacionalidade dos artistas também teve peso na decisão.
O museu chama a coleção de “um presente transformador”. Ao contrário da maioria dos colecionadores de vastos catálogos de arte, os Wagner não são bilionários, ostentadores e sequer aparecem em colunas sociais. Longe disso. O casal é sem firulas e investe com muito cuidado. Eles explicaram, em entrevista ao jornal “The New York Times” que, atualmente, por exemplo, eles já não podem mais comprar uma obra de Koons ou Wool por conta dos preços estratosféricos que os objetos desses artistas são negociados hoje em dia.
Os Wagner montaram essa vasta coleção tendo um bom olho, criando (e mantendo) um relacionamento de amizade com novos artistas, e estando em ateliês ou galerias internacionais na hora certa. Muito dos cheques que eles assinaram foram entregues diretamente nas mãos dos artistas, em seus ateliês. Entre os 75 artistas colecionados, muitos deles são nomes emergentes como Gareth James, Jutta Koether, Sam Lewitt, Cheyney Thomson e Hito Steyrel.
A coleção tem forte ênfase nas duas últimas décadas com obras, como um auto-retrato do artista Alex Israel, datando do ano passado. O casal tem predileção especial por fotografia, e ambos colecionadores montaram um vasto acervo de obras de Lee Friedlander e Robert Adams, e nomes de sucesso recente como Liz Deschenes, Philip-Lorca diCorci e Josephine Pryde. Os fotógrafos colecionados também surgem de expressões artísticas distintas, indo desde o cineasta Larry Clark (de “Kids”) até Mike Kelley, Jutta Koether, Steve Parrino e Christopher Wool, artistas que, coincidentemente, tiveram suas próprias bandas de música punk.
Apesar de terem doado a maioria de sua coleção, Thea e Ethan decidiram guardar alguns objetos para si próprios. Algumas dessas obras que restaram no apartamento do casal vão ser distribuídas por entre os cinco filhos deles (de casamentos diferentes) e nove netos. Outras serão vendidas, a preço de mercado, para que ambos façam um caixa, a fim de comprar futuras obras. O casal promete que vai continuar colecionando por muito tempo.