Protegida por seguranças, Keira Knightley brilha na Broadway
Mesmo que esteja fazendo sua estreia na Broadway, onde alguns críticos locais têm o poder de contribuir para o encerramento de montagens por causa de resenhas impiedosas, a atriz inglesa Keira Knightley anda se sentindo muito segura em cena. Literalmente. O Studio 54, onde ela estrela Thérèse Raquin, adaptação do livro do escritor francês Émile Zola, é o único teatro da Broadway com segurança redobrada. Tem até seguranças andando nas laterais da casa durante a apresentação. Algo raro nos teatros de Nova York.
Tudo se deve ao fato de, na primeira encenação da peça, no começo de outubro, um fã lunático ter criado um pequeno pandemônio, 15 minutos após o espetáculo ter iniciado. “Nada disso é real. Eu te amo. Case comigo, Keira!” gritou o espectador, jogando um buquê de flores no palco. Keira e os outros atores mantiveram a compostura, não interrompendo a cena. Mas o Romeu de araque continuou gritando, exigindo resposta da atriz, até finalmente ter sido colocado para fora.
Embora muitos consideraram o incidente uma chateação típica de uma grande cidade como Nova York, Keira ficou assustada, decidindo dar queixa na polícia, na manhã seguinte, para formalizar a situação de assédio. Segundo fontes, a atriz, que é casada com o músico James Righton e tem uma filha de seis meses, teria ficado abalada com o fato de o fã ter também gritado “nós vamos estar juntos no céu”.
Apesar dos tropeços iniciais (a atriz, esta semana, começou a aparecer no palco usando uma faixa elástica preta no punho após ter sofrido lesão no braço durante cena física com o ator que interpreta seu marido), Keira mostra que, em se tratando de heroínas literárias, não tem para ninguém. Após interpretar personagens de Jane Austen (“Orgulho e Preconceito”), Molière (“O Misantropo”) e Tolstói (“Anna Karenina”), sua adúltera e criminosa Thérèse Raquin é mais um grande trunfo feito em espartilhos.
A Thérèse de Keira é de poucas palavras. Entra em cena calada, lançando olhar contemplativo e perturbado em direção a plateia. Prossegue fitando o lado de fora das janelas, encarando a água do rio e silenciosamente ouvindo as divagações do primo Camille (Gabriel Ebert), com quem vem a se casar, e a mãe deste (Judith Light). Ao se mudarem para Paris, o trio descobre que o pecado mora ao lado: Laurent, um pintor boa pinta, passa a frequentar a casa do amigo Camille. O desejo carnal de Thérèse é à primeira vista. Como em boa trama de filme noir dos anos 50, Laurent mata o marido de Thérèse, empurrando-o para fora de um bote durante passeio bucólico num rio.
As cenas de sexo entre Thérèse e Laurent são urgentes e rápidas. Também inventivas. Em determinado momento, eles transam num pequeno quarto suspenso uns bons quatro metros no ar por duas hastes de metal. Os cenários criados Beowulf Boritt (vencedor do prêmio Tony da categoria em 2014, pela peça “Act One”) são incríveis. Para dar grande dramaticidade ao assassinato de Camille, uma piscina gigante foi construída no fundo do teatro. E o casal adúltero mais a vítima mergulham nela durante a execução do crime.
A adaptação da dramaturga Helen Edmundson (que já trabalhou com obras de Tolstói e Isabel Allende para o teatro) para o livro de Zola é vacilante, sem grandes tensões. Não ajuda o fato de que Keira engole seus homens em cena. Gabriel Ebert faz um Camille histriônico e Matt Ryan (Laurent) é aquele bonitão, tipo canastrão de novela das sete. Sobra para Keira, perfeita em cada olhar, salvar o espetáculo. E que os seguranças a continuem protegendo.