Chefe de nova “Supergirl” é uma espécie de “O Editor Veste Prada”

Marcelo Bernardes

Foi em 1975, com Lynda Carter usando braceletes de ouro e uniforme-maiô de cetim ultra-apertado, que a televisão americana não se rendia aos seriados com superheroínas como protagonista. Agora elas começam a se multiplicar.

Em janeiro, a rede ABC apresentou “Agent Carter”, sobre as aventuras de Peggy Carter (Hayley Atwell), a espiã criada por Stan Lee e Jack Kirby, a dupla da Marvel, e que fazia papel de coadjuvante nas histórias do Capitão América. No dia 20 de novembro, o Netflix disponibiliza toda a primeira temporada (13 episódios) de “Jessica Jones” (Krysten Ritter), outra poderosa da Marvel, e que sofre de transtorno de estresse de pós-traumático. Agora a noite, a rede CBS apresentou sua grande aposta: a série “Supergirl”, cujo piloto custou US$ 14 milhões para ser rodado. O seriado, que foi desenvolvido por Greg Berlanti (de “The Flash” e “Arrow”), chega ao Brasil no dia 4 de novembro.

Melissa Benoist (de "Glee") interpreta "Supergirl", seriado lançado hoje nos EUA e que chega ao Brasil dia 4 de novembro. (Foto: Divulgação)
Melissa Benoist (de “Glee”) interpreta “Supergirl”, seriado lançado hoje nos EUA e que chega ao Brasil dia 4 de novembro. (Foto: Divulgação)

Kara Zor-El (interpretada na fase adulta por Melissa Benoist, da série “Glee”) é uma garota que foi despachada do planeta Krypton para proteger, na Terra, seu priminho mais novo, conhecido popularmente como Superman. Por causa de um acidente de percurso, ela chega um pouco atrasada para a festa e seu primo, que mora em Metrópolis e trabalha como jornalista no “Daily Planet”, já é rapaz crescido e não precisa mais ser pajeado. Resta a jovem de 24 anos, que escolhe cidade (National City) e jornal (o “Tribune”) diferentes para viver e trabalhar, levar uma existência normal – e com certo complexo de inferioridade.

“Supergirl” é criada pelos Danvers, casal interpretado por Dean Cain (o Superman da TV) e Helen Slater (a Supergirl da produção cinematográfica de 1984, estrelada por Faye Dunaway e Peter O’Toole). Sua irmã é feita por Chyler Leigh, atriz que teve outra irmã famosa na TV, a dra. Meredith Grey do seriado “Grey’s Anatomy”.

Apesar de parecer-se com uma Blake Lively menos sexy, a base de Kara é a Anne Hathaway de “O Diabo Veste Prada”. E a horrorosa e insensível Miranda Priestley (Meryl Streep) serviu de protótipo para Cat Grant (Calista Flockhart), a impiedosa editora do “Tribune”. Como assistente de Cat, Kara está sempre no café local – comprando o pingado superquente da patroa -, ou no celular – reservando ingressos do musical “Wicked” ou fazendo de tudo para não colocar a chefe na mesma mesa de Bill O’Reilly, o famoso comentarista político de direita, durante o anual jantar dos Correspondentes em Washington.

Calista Flockart é a editora insensível do jornal "Tribune". (Foto: Divulgação)
Calista Flockart é a editora impiedosa do jornal “Tribune”. (Foto: Divulgação)

Cat, como a maioria dos editores dos grandes jornais mundiais, lida com cortes de seu staff por causa da crise. Ela precisa demitir um certo número de funcionários do “Tribune” porque o matutino, ao contrário do “Daily Planet”, não tem um herói local como Superman, cujas histórias de resgastes com final feliz costumam preencher 54% de suas páginas e vender bem nas bancas.

Quando o avião que leva a irmã de Kara para Genebra entra em pane, National City ganha nova heroína. A cena de carregados efeitos especiais é bem filmada para os padrões televisivos. Também faz “uma homenagem” ao capitão Chesley Sullenberger, piloto que pousou um avião no rio Hudson, em Nova York, em 2009, salvando a vida de seus 155 passageiros.

Assim que a Supergirl dá as caras, a série perde o ritmo. O primeiro dos vilões, Vartox, é – como Donald Trump adora dizer quase todos os dias ao se referir sobre seus oponentes na corrida presidencial americana-, um perdedor. Há também inúmeras tentativas dos roteiristas de venderem a série como pós-feminista. Kara discute com a chefe sobre o apelido da nova heroína. Ela acredita que Supermulher é muito menos degradante que Supergarota. A chefe quarentona mantem o apelido, dizendo que também se considera uma garota.

Kara e o fotógrafo Jimmy Olsen, interpretado por Mehcad Brooks. (Foto: Divulgação)
Kara e o fotógrafo Jimmy Olsen, interpretado por Mehcad Brooks. (Foto: Divulgação)

Entre todas as atualizações de Supergirl (Kara, obviamente, sai num encontro arranjado via aplicativos de celular), a maior delas é a contratação do fotógrafo Jimmy Olsen, que trocou o “Daily Planet” pelo “Tribune”. Em vez de ser um ruivinho nerd, James (“só minha mãe e amigos mais íntimos me chamam de Jimmy”, diz o fotógrafo) agora é um negro com estômago sarado e interpretado por Mehcad Brooks (de “True Blood”).

“Supergirl” ganhou destaque extra na semana passada, quando Jeb Bush, irmão do ex-presidente George W. Bush, durante uma sessão de perguntas e respostas em Las Vegas, disse que tinha visto a propaganda do seriado e que a heroína era “bem gostosa”. Ao comentar a fala do pré-candidato a presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, Melissa Benoist foi diplomática. “Ouvi dizer, mas não sei o que pensar sobre isso. Estou contente que ele está excitado em assistir ao programa”.