Exposição revela como os superheróis protegem as ruas de Nova York
O que seria dos superheróis se Nova York não existisse? Clark Kent se dirigia todos os dias ao centro da cidade para trabalhar na redação do jornal “Daily Planet”. Nas esquinas próximas ao Empire State Building, na rua 34, o repórter usava uma cabine telefônica para se transformar no Superman. Num subúrbio pacato da região do Queens, o jovem nerd Peter Parker morava com os tios. Em 2011, por cortesia dos músicos Bono e The Edge, seu alter-ego, o Homem-Aranha, aprendeu a cantar e foi parar na Broadway. Becos úmidos, escuros e ameaçadores do Baixo Manhattan contribuíram para criar o estilo de Gotham City, a metrópole distópica de Batman.
A exposição “Superheroes in Gotham”, em cartaz no museu New-York Historical Society (Sociedade Histórica de Nova York) até o dia 21 de fevereiro de 2016, apresenta uma linha evolutiva do surgimento dos mascarados lutadores contra o crime e o relacionamento deles com a cidade. A mostra reúne dezenas de revistas de histórias em quadrinhos, ilustrações originais do Homem-Aranha feitas por Steve Ditko (e nunca antes mostradas fora da Biblioteca do Congresso, em Washington), figurinos de seriados e até o Batmóvel.
Os pais dos superheróis surgiram, nas décadas de 30 e 40, de todos os cantos de Nova York – Brooklyn, Bronx e Baixo Manhattan. Apesar de alguns filhos de imigrantes italianos e protestantes, a grande maioria dos ilustradores e escritores eram judeus, como Bob Kane (nascido Robert Kahn), criador do Batman; Will Eisner, criador do The Spirit; e Stan Lee (nascido Stanley Lieber), criador do Homem-Aranha e do Incrível Hulk, entre outros.
Mas a dupla pioneira no desenvolvimento do primeiro herói atuante em Nova York veio da cidade de Cleveland, no estado de Ohio. No verão de 1938, os amigos Jerry Siegel e Joe Schuster publicaram a primeira história do personagem Superman (criado cinco anos antes). Antes de eventualmente se mudar para Nova York, Siegel costumava pegar um trem até o centro de Manhattan para entregar seus roteiros, que ele redigia numa máquina de escrever da marca Royal. A máquina, que acompanhou Siegel até quando ele serviu o exército em 1943 e escrevia colunas para jornais militares, está exposta também.
Em 1939, Batman apareceu no número 27 da revista de quadrinhos “Detective Comics”. Várias das edições originais dos superheróis estão reunidas na exposição, entre elas as da Mulher Maravilha (apresentada em dezembro de 1941), Capitão América (dezembro de 1940), Homem de Ferro (março de 1963) e Homem-Aranha (agosto de 1962).
Em 1972, em sua primeira edição e com artigos sobre Simone de Beauvoir e um escrito por Gloria Steinem, a revista feminista “Ms.” estampava uma ilustração que convocava a “Mulher Maravilha Para Presidente”. Em exposição também está uma revista de quadrinhos brasileira, publicada pela editora EBAL: Os Justiceiros, com histórias protagonizadas pelo heróis Super-Homem, Lanterna Verde, O Máscara e Meia-Noite.
Uma sala da exposição é dedicada aos programas de TV e filmes baseados nos comics. Curiosidades vão desde o guarda-chuva do vilão Pinguim e da lista telefônica de Gotham City, passando pelos uniformes que o ator George Reeves usou no seriado Superman, de 1952, e macacão e acessórios da Mulher-Gato, interpretada por Julie Newmar no seriado Batman, apresentando pela rede ABC a partir de janeiro de 1966.
A exposição encerra com os novos heróis, a maioria deles produções independentes como The Red Hook, que defende os moradores do Brooklyn e foi criado em 2013 por Dean Haspiel, e DMC, que age no bairro do Queens, e foi criado, no ano passado, por Darryl McDaniels, músico da lendária banda de hip hop dos anos 80 Run-DMC. Exposta também está a edição especial do Homem-Aranha de dezembro de 2001, na qual o herói em companhia de outros nomes da Marvel, como Capitão América, vai ao Ponto Zero ajudar as verdadeiras equipes de resgate que trabalharam nos escombros do World Trade Center, após os ataques terroristas de 11 de setembro daquele ano.
No lobby do museu fica estacionado o Batmóvel, com seus quase seis metros de formidável design retrô. O modelo Ford Galaxie 500 é conhecido como Batmóvel número 3. O número 1, um Lincoln Futura, foi usado nas gravações do seriado de TV. Os modelos 2 e 3, além de servirem de substitutos, cumpriram a função de promover a série em eventos promocionais e, mais recentemente, em comic-cons ao redor do mundo. O Batmóvel funciona e é movido a gasolina. Mas o carro tem um problema: ele não tem permissão de circular pelas ruas de Nova York.