Trens do filme de Steven Spielberg ainda circulam em Nova York
Com parte da trama desenrolada na Nova York do final das décadas de 50 e começo da de 60, “Ponte dos Espiões”, novo filme de Steven Spielberg, obrigou que cenógrafos, diretores de arte e até a equipe de efeitos especiais recriassem fachadas de lojas, pôsteres de rua, decoração de interiores e pontos da cidade que já não existem mais. Spielberg, que rodou seu filme nos bairros do DUMBO, no Brooklyn, e do West Village, em Manhattan, em setembro de 2014, queria que o ano de 1957 fosse retratado da maneira mais próxima possível da realidade.
“Ponte de Espiões”, em cartaz no Brasil e Estados Unidos, deixa claro que, apesar de caminhar cada vez mais rapidamente em direção ao futuro, a cidade de Nova York ainda mantem viva – e em funcionamento – partes de uma realidade cotidiana datada de cinco décadas atrás, quando Lyndon Johnson ainda era o presidente americano.
Quando o espião soviético interpretado pelo ator inglês Mark Rylance salta de um trem na estação Broad Street, no Baixo Manhattan, vários espectadores reconhecem os dez vagões daquela composição do metrô. É que mais de uma dezena desses trens ainda estão em atividade hoje, servindo diariamente as linhas C e J da cidade, que ligam as regiões do Brooklyn, Manhattan e Queens. E eles são tão eficientes e velozes quanto os modelos de trens mais modernos.
O trem R32, lançado em 1964 (com direito a músicas de uma banda de 20 integrantes), é o mais antigo em circulação nos Estados Unidos e um dos mais velhos do mundo, ao lado de alguns trens dos metrôs de Buenos Aires e Londres. Metrôs de Paris e Boston, por exemplo, têm toda sua frota de trens atualizada.
Entre 1964 e 1973, cinco modelos de trens mais modernos foram lançados no centenário metrô novaorquino. Mas eles desapareceriam por completo dos trilhos em anos seguintes, alguns até por conta de defeitos estruturais. Mas os R32, fabricados na Filadélfia e com exteriores de aço inoxidável encrespado, foram mantidos pelo Departamento de Trânsito da cidade por conta de sua durabilidade e confiabilidade. Alguns usuários setentões do metrô lembram que andam no R32 desde o final da infância deles.
Para filmar a cena em que Rylance usa o R32, a produção do filme de Spielberg precisou trocar sinais, pôsteres, catracas e iluminação da estação Broad, no distrito financeiro de Manhattan, mas mínimas mudanças cosméticas foram aplicadas no R32.
Já em duas cenas importantes com o ator Tom Hanks, que interpreta o advogado que defende o espião soviético em corte, Spielberg optou por filmá-la dentro do vagão de um trem R11/R34, construído em 1955. Os interiores desse modelo eram parecidos com outros em circulação na cidade no final dos anos 50.
Os R11/R34 ficaram conhecidos como “o trem de um milhão de dólares”, uma vez que cada um de seus dez vagões custou US$ 100 mil. Eles foram construídos especialmente para um projeto de nova linha de metrô, que cortaria a Segunda Avenida em Manhattan, e que levou mais de 50 anos para ficar pronto (parte desse projeto, finalmente, será lançado no ano que vem).
Dos dez icônicos vagões do R11/R34, somente oito ainda existem hoje. Um deles, o usado por Spielberg, fica numa estação subterrânea do Museu de Transporte de Nova York, com sede no Brooklyn.
O R32, por sua vez, ainda não está pronto para a aposentadoria, muito menos para virar peça de museu. A prefeitura de Nova York não tem planos de retirar a frota de circulação até o ano de 2020.