Nos Estados Unidos, novo livro revela o fracasso do capitalismo verde

Milly Lacombe

O historiador econômico Richard Smith termina seu mais recente livro (“Green Capitalism: The God That Failed”, ou “Capitalismo Verde: o Deus que Fracassou”) deixando no ar uma sentença: ou nos livramos do capitalismo, ou o capitalismo se livra de todos nós. E em pouco tempo.

O pranto de Smith, ainda mais contundente do que o de Naomi Klein em seu excelente “This Changes Everything”, ou “Isso Muda Tudo”, tenta mostrar que nem o chamado “capitalismo verde”, aquele que busca praticas ecológicas corretas e sustentáveis mas não abre mão do sistema, vai nos salvar.

Os primeiros dois terços do livro são dedicados a construir e elaborar o apelo final, e Smith mostra exatamente como estamos caminhando para o abismo.

Em sua obra, Klein já havia explicado para leigos como eu que o previsto aquecimento da temperatura global entre 4 e 6 graus em relação a períodos pré-industriais pode ser fatal; e mostrado como, se continuarmos a emitir CO2 nesse ritmo, chegaremos lá em 2100. Um aumento de até 2 graus já poderia custar a vida na Terra, essa é a visão dos cientistas mais pessimistas. E agora Smith dá a cartada final: hora de parar de dançar ao redor do tema porque o capitalismo, de qualquer cor, nos matará.

Ele sugere alternativas que passam, evidentemente, pelo fim do consumismo e do materialismo – o que mais se parece com uma revolução espiritual, como, antes dele, Noam Chomsky já havia previsto que seria nossa única chance -, mas diz não saber se teremos condições de fazer essa transição antes de tudo se acabar.

Talvez não consigamos, ele diz, “mas pelo mundo todo, em milhares de lugares, pessoas estão se organizando e lutando contra o poder corporativo, contra a apropriação de terras, contra extrações extremas, contra a incessante “commodytificação” de nossas vidas (…) Todas essas lutas têm um objetivo comum: democracia pura, poder popular. Reside aí nossa melhor chance”.

David Suzuki, da Universidade de British Columbia, no Canadá, argumenta que o livro de Smith mostra claramente o absurdo de um sistema que acredita em crescimento infinito dentro de um mundo de recursos finitos. “Todos os que se preocupam com o futuro de nossos filhos devem ler o livro de Smith porque assim podemos começar o urgente desafio de nos mover para um caminho diferente”, ele pede.

Trata-se de leitura difícil mas ao mesmo tempo edificante porque, como solução, aponta para um cenário de união e de comunidade.

Smith é apenas mais um a se juntar a um grupo de nobres, como Klein e Chomsky, que, todos os dias, tenta chamar nossa atenção para o que parece ser a única verdade: a de que o aquecimento global é a maior ameaça que a humanidade já enfrentou até hoje, e estamos agora contra o relógio.

Os dois livros, o de Klein e o de Smith, podem ser encontrados em versão e-book, mas por enquanto ainda apenas em inglês.