Nova York vive situação de desastre em relação aos sem-teto

Milly Lacombe

É impossível andar pelas ruas de Nova York e deixar de ver a população que mora nas ruas. Durante o inverno, com temperaturas que esse ano chegaram à sensação de menos 23 graus, os sem-teto não ficam tão à vista e é mais fácil que a cidade finja que não existam, mas com a chegada da primavera a situação é escancarada.

Na edição dessa quinta-feira, 7 de maio, o “New York Times” abordou o problema em seu espaço mais nobre: o editorial.

Nos cinco distritos da cidade de Nova York são 57 mil sem-tetos que precisam recorrer a abrigos durante a noite, sendo 23 mil deles crianças, e não há como calcular o número daqueles que nem abrigo procuram e amontoam-se em estações de metrô, como a Penn Station, já conhecida como “a central do sem-teto”, ou “homeless central”.

No texto, o maior jornal do país usou as palavras “crise” e “desastre” para tartar do assunto, e não há como tentar encontrar vocabulário menos duro se os números apenas aumentam – eram 53 mil sem-teto em 2013.

Para os sem-teto ter a imprensa falando sobre o tema, ao contrário do que possa parecer, não é bom porque sempre depois que emissoras de TV mostram imagens da Penn Station (um enorme conglomerado de estações de metrô e de trem), abarrotada de desabrigados durante a noite – como fez essa semana – eles são (não tão gentilmente) convidados a se retirar e procurar um abrigo.

Enquanto prefeito, governador e ativistas debatem a necessidade de aumentar o número de leitos para desabrigados e seguem discordando da quantidade ideal o problema fica longe de ter solução já que encontrar uma cama para eles não é exatamente resolver a situação em que se encontram, mas apenas tirá-los de vista.

Nos Estados Unidos o problema é epidêmico.

Hoje, uma em cada 30 crianças não têm um teto no país, de acordo com as pesquisas mais recentes. Uma delas, a “America’s Yougest Outcasts”, calculou que durante o ano de 2013 2,5 milhões de crianças estavam sem um teto no país.

Dar a essa população cama e algum conforto é um começo, mas deixar de reconhecer que a crise de 2008 não acabou e se aprofunda flerta com a alienação.