Turistas invadem o Brooklyn e o metrô da cidade entra em colapso
No ano passado, um artigo da Associated Press colocava em perspectiva a nova sanha criada em torno do Brooklyn, uma das cinco regiões que formam a Grande Nova York. Segundo a agência de notícias, a cidade de Paris, por décadas, sempre foi parâmetro de comparações mundiais. Buenos Aires é a Paris da América do Sul; Montreal é a Paris da América do Norte e por ai vai. Agora a cidade-fetiche é o Brooklyn. Existem os Brooklyns de Miami e de São Francisco; as cidades de Glasgow e Melbourne apresentam seus mini-Brooklyns e até Paris enfrentou sua Brooklynização, com abertura de restaurantes glúten-free e lojinhas de suco natural (o jornal The New York Times declarou que os hipsters fizeram mal para a cidade francesa).
Viver no Brooklyn não é sempre um mar de rosas, com a imagem-clichê de desfile de hipsters lançando novas tendências da moda, bons restaurantes orgânicos, arte de rua, feiras gastronômicas e lojinhas transadas. A gentrificação de bairros como Williamsburg, Bushwick, Cobble Hill, Red Hook, com a chegada especialmente da classe média alta branca no local, alterou a paisagem das comunidades de negros, judeus ortodoxos e latinos e aceleracão do processo migratório deles, e, em alguns casos, fizeram até prédios que pertenciam à prefeitura e destinados a abrigar sem-tetos durante a noite desaparecerem para sempre.
Agora, desde o final de semana passada e até o dia 18 de maio, o fluxo de turistas para o Brooklyn, principalmente nos finais de semana, encontrou sua primeira grande barreira: a capenga infra-estrutura do transporte coletivo de Nova York. A prefeitura de Nova York autorizou que o Departamento de Transporte Público da cidade, o MTA, fechasse uma das linhas da maior acesso de Manhattan para o Brooklyn (e vice-versa), a L, durante cinco finais de semana consecutivos para reparos. Das 23h30 da sexta-feira até segunda às 5:30 da manhã, ninguém pode pegar o L.
Isso criou um grande problema para o comércio local do Brooklyn. Cerca de 30% da frequência de lojas e restaurantes da região é formada por turistas que visitam o local no final de semana. O L deixa os passageiros no meio do agito de Williamsburg, onde fica a maior concentração de bons restaurantes. Partes de Manhattan também foram afetadas, como é o caso do bairro do East Village, primeira parada da linha L, de quem vem do Brooklyn para Manhattan. Nos finals de semana, as dezenas de bares, restaurantes e clubes gays do East Village perderam 10% de sua clientela. Para quem quer visitar o Brooklyn agora outras linhas de metrô devem ser consideradas, mas o trajeto de algumas delas até Williamsburg pode significar mais de 25 minutos, se o turista decidir saltar do metrô e andar até o local. Táxis são mais escassos no Brooklyn, o que fez a companhia Über capitalizar em cima do grande transtorno. Quem decidir “rachar” uma corrida num dos carros da empresa, do Brooklyn até Manhattan, ou vice-versa, paga US$ 5 (cerca de R$ 15) pela viagem.
Em 2014, o número de usuários do metrô de Nova York subiu em 2.6%, continuando a tendência do renascimento deste meio de transporte na última década. Para se ter uma ideia do aumento da demanda, o último boom do metrô de Nova York aconteceu na década de 40. No ano passado, a estação do Times Square, a mais cheia de Nova York, teve um aumento de 3.6% em seu número de usuários. Cerca de 205 mil pessoas se utilizam diariamente nos trens que param naquela estação.
De todas as cinco regiões de Nova York, a do Brooklyn foi a que mais apresentou demanda de trens por passageiros, com um aumento de 2.7%. De todas as linhas de metrô que servem o Brooklyn, a L foi a que mais cresceu: 4.7% a mais de passageiros, o que obrigou o MTA a aumentar a circulação diária de trens, acrescentando mais 12 viagens diariamente. O número de passageiros da linha L que se utilizam da estação Bedford Avenue, no Brooklyn, por exemplo saltou em 50% desde 2007. A linha, obviamente, não comportou a forte demanda de novos moradores da região e o enxame de turistas. Trens começaram a atrasar e o espreme-espreme dos vagões pode ser observado até fora do horário de pico.
A linha L tem suas histórias pitorescas. É a que tem a maior concentração de pessoas bem vestidas (no sentido casual-chique) e atraentes, o maior número de homens de bigode e barba bem aparada, e instalações-relâmpagos (e ilegais, naturalmente) de arte. Por ter passageiros com média etária abaixo que as demais linhas de metrô na cidade, além da presença de profissionais liberais e artistas, a linha L apresenta também o maior número, por metro quadrado, de pessoas bem educadas que agem de forma rude. Grávidas e idosos não conseguem ganhar facilmente um assento de um bom samaritano. Quem diria, liberais e fashionistas tendem a ser os mais mal educados em Nova York.