Nova sede do Whitney Museum abre suas portas no dia 1o. de maio
Pela primeira vez desde 1966, um dos quatro maiores museus de Nova York abandonou seu endereço antigo por uma nova locação. Na sexta, dia 1o. de maio, depois de 11 anos de planejamento e construção, o Whitney Museum, abre suas portas no Meatpacking District. O museu, um projeto do arquiteto italiano Renzo Piano, agora fica ao lado do parque High Line, de frente para o rio Hudson e com o hotel Standard como vizinho próximo.
O Whitney Museum of American Art, cujo custo final foi de US$ 422 milhões, foi construído num grande quarteirão que servia de sede para vários açougues. A administração do ex-prefeito Michael Bloomberg, um mega-empresário que governou a cidade por 12 anos, facilitou a transacão da compra do lugar pelo conselho do Whitney. Ainda existe um açougue adjacente ao museu, que, desde 1966, funcionava em bairro muito mais elegante e sóbrio, o Upper East Side. Naquela encarnação, a construção modernista do Whitney ficou a cargo do arquiteto húngaro Marcel Breuer (1902-1981). O antigo Whitney vai virar em breve uma extensão do Metropolitan Museum, que sublocou o prédio mas ainda não decidiu como irá utilizar o espaço. Os outros dois integrantes do “Dream Team” de museus de Nova York são o MoMA e o Guggenheim.
O novo Whitney Museum não vai decepcionar quem estiver disposto a encarar as filas que a partir do dia 1. de maio devem se formar na porta. O Baixo Manhattan teve acesso à inauguração para a imprensa nessa quinta-feira, 23 de abril, e pode explorar os oito andares do novíssimo prédio do Meatpacking durante três horas.
Todo de vidro, com quatro pátios nos quais artistas poderão instalar esculturas e fazer performances, o Whitney possibilita uma visão quase panorâmica da cidade: para a estátua da liberdade, o rio Hudson e o skyline de Nova York. Olhar para fora a partir dos limites do Whitney passa a ser uma experiência artística em si mesmo, e era isso o que queria o arquiteto italiano Renzo Piano quando, há onze anos, sentou para desenhar o novo museu. Piano também deve ter se inspirado pelos espaçosos lofts do SoHo, com pé direito alto e muitas janelas. A iluminação natural do novo Whitney é um espetáculo á parte.
“Um artista não explica sua obra assim como um cantor não explica sua música antes de cantar”, disse Piano para uma plateia de centenas de jornalistas do mundo inteiro que se espremiam no lobby do Whitney na manhã do dia 23 de abril. E, em seguida, desandou a explicar a própria obra, mostrando que, como um bom artista, não tem medo de contradições.
“Vocês estão no lobby, mas eu gosto de chamar esse espaço de piazza. Não apenas porque sou italiano, mas também porque minha intenção era a de estabelecer aqui um espaço comunitário, separado da rua por vidro para que, quem lá fora passe sinta-se convidado a entrar. Um espaço que não intimida, que não é prepotente, que convida”, disse.
De fora, o novo prédio parece uma nave (alguns comparam a silhueta do museu à de uma nau), e Piano explicou que, a partir da “piazza”, os convidados têm que subir (pelas escadas, ou por quatro elevadores, um deles gigantesco, que tiveram design especial do escultor e pintor Richard Artschwager, que faleceu em 2013, aos 90 anos) e, subindo, terão acesso a saguões repletos de arte, mas, “acesso também a um dos bens mais preciosos, a liberdade, porque arte fala de liberdade”, disse o arquiteto antes de completar. “O museu pesa 28 mil toneladas, mas foi concebido para voar”.
Os 5 mil metros de salões não são interrompidos por nenhuma coluna, e os vãos livres (maiores do que qualquer museu da cidade) impressionariam mesmo que não houvesse obra nenhuma ali dentro. Mas há. Há milhares de obras no acervo do Whitney. Mais exatamente 22 mil. Na sede antiga do museu, o acervo era de 2 mil obras. Para quem faz jogging, anda de bicicleta ou caminha ao longo do rio Hudson pode ver à distância um painel gigantesco do escultor e pintor Jonathan Borofsky batizado de “Running People at 2,616,216”.
As assinaturas são “Early Sunday Morning”, de Edward Hopper, “Circus”, de Alexandre Calder, “Green Coca-Cola Bottles’, de Andy Warhol, “Summer Days” de Georgia O’Keeffe e “Three Flags”, de Jasper John. Mas além dos clássicos modernos de Jean-Michel Basquiat, Alex Katz e Robert Mapplethorpe, há uma dezena de novos artistas, e a curadoria deu atenção especial a artistas multimídia, mulheres e imigrantes. Eles estão reunidos na primeira exposição do museu, batizada de America is Hard to See”, e que fica em cartaz de primeiro de maio até 27 de setembro. Em exposições futuras, o Whitney vai celebrar o trabalho do pintor Frank Stella e inovar com apresentação do jazzista Matana Roberts e até uma instalação (para a primavera de 2016) criada por Laura Poitras, a diretora vencedora do Oscar pelo documentário “Cidadãoquatro”, sobre Edward Snowden.
“As pessoas sempre entenderam que o Whitney era um museu de arte moderna americana”, disse ao New York Times Scott Rothkpnof, um dos curadores. “Mas os Estados Unidos são um país de imigrantes, e a imigração é um dos temas mais importantes do mundo hoje”.
Nem sempre foi assim. Nos anos 90 o museu quase se livrou de uma de suas obras mais importantes atualmente, o quadro “Air Mail Stickers”, da artista japonesa Yayoi Kusama, simplesmente porque ela morava no país, mas não tinha cidadania americana.
Entre as mulheres, obras da artista cubana Carmen Herrera, que mora em Nova York e vendeu seu primeiro quadro aos 89 anos. Hoje, aos 99, Herrera, uma minimalista que usa figuras geométricas em sua obra, é reconhecida mundialmente.
Nessa primeira mostra, chamada “America is Hard to see”, o andar mais interessante talvez seja o que explora a relação entre arte e política. A exposição “Course of Empire” mostra obras que refletem sobre o 11 de Setembro, sobre o Furacão Katrina e sobre a crise financeira de 2008.
Escondidinho no lobby uma galeria mostra a história inicial do Whitney, quando Gertrude Vanderbilt Whitney, filha do homem (Cornelius Vanderbilt II) mais rico nos Estados Unidos, na virada do século 20, fundou a instituição em 1931. O sobrado, que ficava no bairro do Greenwich Village, mais precisamente na rua 8, era um estúdio de arte para interessados, e um dos estudantes de Gertude, que era escultora, foi Edward Hopper, cujos primeiros desenhos, estudos de nudez feminina, estão agora ali expostos.
Ao todo, o Whitney teve quatro sedes. A segunda delas, em 1954, foi em Midtown, mais precisamente na rua 54, e, depois da década de 60, transferido para a Madison Avenue, Upper East Side. Na época da abertura da terceira versão do Whitney, a crítica Ada Louise Huxtable, do jornal New York Times, chamou o prédio de Marcel Breuer de “um das mais odiadas construções” da cidade.
Agora está num quarteirão onde funcionavam açougues e de frente para um pier onde os sobreviventes do naufrágio do Titanic foram trazidos. Em outro pier, Nova York deverá receber, até o final da década, um espaço, sem qualquer filiação com o Whitney, que vai misturar gastronomia, comércio chique e galerias de arte. “ Estamos ao mesmo tempo nos transformando e voltando às raízes”, disse Neil Bloom, o presidente. E pela primeira vez desde a nossa abertura, todos os 300 funcionários do museu podem trabalhar juntos em um mesmo endereço”
“O novo Whitney está localizado entre a cidade e a água”, disse Piano. “Mas, mais importante, entre a cidade e o resto do mundo”. E por falar em água, esse é um grande problema estudado com muita atenção por Piano. Durante o furacão Sandy, em 2012, as águas do rio Hudson subiram tanto que a avenida marginal do bairro ficou alagada. Vários prédios de classe média alta do local tiveram suas garagens inundadas. O designer Marc Jacobs, que tinha um apartamento em andar mais baixo em um prédio, perdeu parte de sua coleção de arte. No novo Whitney, existe um dispositivo que ativa uma espécie de muro protetor de três metros de altura.
A antiga sede do Whitney tinha média anual de visitação pública de 350 mil. O espaço de Piano deve triplicar o número de visitantes.