Criador de Peter Pan e chefão de Hollywood se encontram na Broadway
“Em Busca da Terra do Nunca” foi o bem-sucedido filme estrelado por Johnny Deep e Kate Winslet, em 2004, que concorreu a sete Oscars e venceu um de melhor trilha sonora. Ele contava a história da história da criação de Peter Pan pelo dramaturgo escocês J.M Barrie. Agora “Em Busca da Terra do Nunca” (“Finding Neverland”) é também uma super-produção da Broadway.
E por superprodução precisamos levar em conta quem está por trás e quem está pela frente.
Por trás está um dos homens mais poderosos do cinema americano, o produtor Harvey Weinstein, que faz sua estreia na Broadway. E pela frente está Kelsey Grammer, no Brasil mais conhecido por seus papéis nos seriados “Frasier” e “Cheers”. Os dois, mais um grande elenco, que tem como protagonista o ator Matthew Morrison, de “Glee”, no papel de Berrie dão vida à fábula por trás da fábula.
O Baixo Manhattan assistiu a uma das primeiras apresentações e saiu bem impressionado: trata-se de uma superprodução sem grandes exageros, divertida, com cenografia simples e engenhosa, e cheia de boas músicas, incluindo o tema entre Barrie e o garoto Peter, que já nasceu com vocação para clássico. Nada que surpreenda ou tire o fôlego, apenas uma história bem contada e impecavelmente produzida. Como em quase todas as superproduções da Broadway, “Finding Neverland” faz rir e chorar, ainda que não se esforce para desviar de clichês e piadas fáceis. “Você já viu uma fadinha?”, pergunta o personagem do produtor interpretado por Grammer para um dos atores na trupe de Barrie. “Eu sou do teatro! Eu vejo farinhas o tempo todo”, brada o ator. Em inglês “fairy” (fada) é um termo pejorativo para designar gays afeminados.
“Finding Neverland” conta a trajetória do dramaturgo J.M Berrie entre o bloqueio criativo e a epifania de enxergar a criança dentro de todos nós e fazer nascer Peter Pan, o menino que nunca vira homem.
A epifania, como todos os verdadeiros descobrimentos, não acontece sem dor e sofrimento, e também não consegue se materializar sem que o personagem – no caso Berrie – faça as pazes com a dor e aceite a vida. No começo da peça, Berrie é um autor de sucesso, mas descontente com a qualidade do que cria e desajustado dentro da aristocracia inglesa à qual pertence. O ponto da virada é o rompimento com a moral da época e a entrega incondicional às coisas que sente, vê e nas quais acredita, a despeito do que esperam dele.
Claro que tudo isso, contado com a ajuda de músicas intensas, confere ainda mais cor e emoção à virada do personagem.
Para ajudar a contar a história, que se passa na Inglaterra do século 19, um elenco cheio de crianças – que canta e dança com o talento de adultos – e até um cachorro-ator.
Grammer, no papel do produtor americano que banca as peças de Berrie, é um comediante natural e abusa do talento que tem, conseguindo fazer rir muitas vezes apenas com o tempo de suas falas. No palco, assim como fazia em “Frasier”, é capaz de seduzir e orquestrar a audiência. A novidade está na cantoria sem fim, à qual Grammer se entrega sem comprometer.
Mas nessa área quem dá o recado são Morrison e seu par romântico, Laura Michelle Kelly, atriz inglesa veterana em Broadway (ela estreou em 2004), tendo feito o papel de Mary Poppins diversas vezes.
Harvey Weinstein, que também produziu o filme com Johnny Depp, já havia se aventurado pela Broadway anteriormente, investindo nos musicais “A Cor Púrpura” e “The Producers”, mas ficando na retaguarda. Mas com “Finding Neverland” sua dedicação foi total: ele investiu US$ 20 milhões na montagem inaugural em Londres e, depois numa reformatada geral da encenação, para a Broadway. Como todo mundo sabe, a personalidade do produtor é explosiva e, Weinstein, entrou em atrito com o assessor de imprensa da peça, gritando com o profissional por este não ter colocado tanto Morrison e Grammer como Laura Michelle nas páginas das principais revistas americanas para promover o musical. Weinstein, aprendeu na prática, que, em se tratando de Broadway, assessores de imprensa são poderosos e, comprar brigas com eles, afeta a imagem de uma produção, ainda mais se o assessor de imprensa tornar as rusgas públicas, como parece ter sido o caso deste espetáculo. Desde o atrito, no começo do ano, os dois já fizeram as pazes.
Os críticos se dividiram com o resultado de “Finding Neverland”, mas nada abalou a bilheteria da peça. Na semana passada, a bilheteria do teatro Nederlander vende US$ 1 milhão em ingressos. Weinstein já encomendou uma tour nacional para o musical, com um outro elenco itinerante.
Vai ajudar também o fato de que, no dia 24 de julho, o filme “Pan”, dirigido pelo inglês Joe Wright (de “Desejo e Reparação” e “Orgulho e Preconceito”), chega aos cinemas americanos. Nesta produção, os atores Garrett Hedlund e Rooney Mara interpretam versões livremente inspiradas em Capitão Gancho e Sininho. Hugh Jackman é um pirata, o ator mirim australiano Levi Miller é Peter Pan, e a top model Cara Delevigne aparece como uma sereia.