Programa de dublagem vira sensação na TV americana
A pegada do programa “Lip Sync Battle” (Batalha da Dublagem) é simples e direta como o título deixa claro. Duas celebridades se enfrentam num palco com platéia, dublando uma música famosa. Vence o melhor. No dia 2 de abril, data de início do programa, o comediante Jimmy Fallon e o ator Dwayne Johnson (The Rock) apresentaram suas mímicas mais que animadas para “Like a Prayer” and “Shake It Off”, sucessos respectivamente nas vozes de Madonna e Taylor Swift. Foi o que bastou para o canal Spike bater todos os recordes da casa para um programa sem script: 2.2 milhões de espectadores ficaram sintonizados. E, no YouTube, onde alguns vídeos do programa foram disponibilizados, eles foram acessados mais de 15 milhões de vezes.
Hoje à noite, em novo episódio, a competição promete ser pesada. E a rede Spike já prevê números superiores. As atrizes Anne Hathaway e Emily Blunt, que trabalharam juntas no filme “O Diabo Veste Prada”, se enfrentam logo mais no palco. A Spike já divulgou trechos da apresentação de Hathaway, que dubla o hit “Wrecking Ball”, de Miley Cyrus. Hathaway entra no palco, usando o mesmo shortinho lycra curto de Miley e pula, de perna aberta, numa bola gigante.
O sucesso de “Lip Sync Battle” não surgiu sem oferecer uma saborosa história de bastidores de vencedores e perdedores. O programa é uma espécie de spin-off ampliado de um quadro do “The Tonight Show”, do comediante Jimmy Fallon, da rede NBC. Desde que criado em 2014, o esquete de dublagens apareceu algumas vezes no talk show de Fallon. O mais famoso deles foi um enfrentamento triplo entre os atores Joseph Gordon-Levitt, Emma Stone e Stephen Merchant (o parceiro de Ricky Gervais no sitcom inglês “The Office”). O clipe, disponibilizado no YouTube, foi visto por 41 milhões de pessoas.
Ao apresentar a ideia de um programa próprio para a NBC, Fallon recebeu um não. A emissora, que já havia comprado uma outra ideia de programa do comediante, achou que ele estava sendo demais. “Existia uma sentimento (na emissora) de que ‘a gente não vai comprar todas as ideias que Jimmy trazer para a gente’”, disse uma fonte da emissora à revista The Hollywood Reporter desta semana.
Outra fonte revelou que o conceito do programa foi considerado pequeno pela emissora e que, até então, não haviam estrelas de gabarito atreladas ao projeto. Nos próximos 15 episódios do programa, Justin Bieber, Jennifer Lopez e a atriz Anna Kendrick aparecerão dublando. O programa acabou sendo oferecido – e aceito – pela emissora Spike, que pertence ao grupo Viacom, concorrente da NBC. Ciente da saia justa, Fallon tem sido cauteloso em divulgar o programa, apesar de ele já ter tuítado algumas vezes sobre o show. A NBC não se pronunciou oficialmente a respeito da grande oportunidade de sucesso descartada.
“Lip Sync Battle” é apresentado pelo músico LL Cool J e tem também a participação, como comentarista, da modelo Chrissy Teigen, que vem a ser a esposa do músico John Legend – e este já apareceu dublando no programa. “Existe uma qualidade do inesperado no programa”, explica Chrissy. “E ajuda o fato de que artistas adoram interpretar uma música no palco”.
O conceito simples do programa nasceu no meio da estrada há dois, mais precisamente dentro de um carro. Os amigos Stephen Merchant e John Krasinski, atores que ficaram famosos por participarem respectivamente da versão original inglesa e da adaptação americana da comédia “The Office” faziam uma viagem de carro na companhia de mulher de Krasinski, a atriz Emily Blunt. Quando os sons tribais da canção “All Night Long”, de Lionel Richie, surgiram no rádio, Krasinski “pegou” um microfone imaginário e começou a dublá-la. Outras músicas se seguiram. A ideia foi “vendida” para Jimmy Fallon, e uma canja entre o comediante e Krasinski aconteceu no “Tonight Show”. Fallon dublou “Don’t Cry Out Loud”, de Melissa Manchester, e Krasinski foi com um hit de Katy Perry: “Teenage Dream”. “Soa como clichê, mas algo mágico aconteceu”, disse Krasinski ao jornal New York Times sobre aquela apresentação inicial. “Jimmy olhou para mim e disse: isso vai ser mega.” Tanto Krasinski quanto Merchant são agora produtores-executivos do show do canal Spike.
O programa chega num momento em que conceito de dublagem está em alta nos Estados Unidos. O aplicativo gratuito dubsmash, criado por três alemães, se tornou um sucesso. Ele permite que o usuário grave, com seu celular, um vídeo “versão karaokê”, dublando uma música famosa ou diálogo de um filme. Mais de 10 milhões de pessoas já baixaram o aplicativo em vários paises, 20 milhões de vídeos foram compartilhados, e até Rihanna usou a plataforma para disponibilizar uma canção. Outro sucesso é o canal do YouTube, Bad Lip Reading (Leitura Labial Ruim), criado em 2011. O responsável pelo canal, que ainda se mantem anônimo, produz vídeos em que dubla, em tom de sátira, falas de jogadores de futebol americano (22 milhões assistiram a versão 2015 da NFL, a liga de futebol do país), cenas de filmes e séries de TV famosas e até o discurso de posse do presidente Barack Obama que, com a mão sobre a Bíblia, jurou que “existem dois Einsteins”, “Elvis tinha sex appeal” e “eu adoro maquiagem”.