O quinto sabor dribla a crise americana
Toda história de uma grande crise financeira reúne também histórias de sucessos individuais. O mais recente colapso do capitalismo no mundo – uma que começou em 2007 e ainda não tem hora para acabar – fez o americano Adam Fleischman virar milionário.
Em 2009, Fleischman, 39, teve a ideia de criar uma lanchonete de hambúrgueres finos para atender aqueles que, antes da crise, saíam de casa para comer um steak e, com a derrocada, precisavam de uma alternativa.
A primeira loja foi aberta em Los Angeles e cinco anos depois a rede Umami – palavra japonesa que identifica o quinto sabor – já tem mais de 25 lojas pelo país, vende um milhão de dólares em hambúrgueres por semana e continua crescendo.
O Baixo Manhattan esteve na inauguração da lanchonete do Brooklyn, em NY, aberta no começo de março, e foi tentar entender da onde vem tanto barulho com os hambúrgueres servidos no Umami.
Na entrada, a decoração sofisticada e a iluminação indireta de fato não lembram as de uma lanchonete, mas o cardápio chega e você imediatamente entende onde está: hambúrgueres, fritas, refrigerantes. Só que há também drinques e vinhos e uma sugestão de pareamento com uma bebida alcóolica para cada um dos hambúrgueres, e nessa hora a coisa começa a ficar mais interessante.
Em seguida você percebe que todos os hambúrgueres têm as palavras “trufado” ou “caramelizado” na descrição – e qualquer coisa que leve “trufado” ou caramelizado” na descrição tem meu apoio incondicional mesmo que sejam formigas assadas – e talvez por causa disso a clientela não ache caro pagar 13 dólares (ou quase 50 reais) por um hambúrguer.
Pela nossa mesa, além da batata doce frita coberta com queijo cheddar derretido e levemente apimentado e da batata frita trufada, passou o CEO do Umami, Paul E. Clayton – ex Burger King – que há pouco tempo substituiu Fleischman no comando das operações (Fleischman hoje faz parte do conselho). Clayton explicou que a ideia de montar uma casa que buscasse atrair aqueles que já não podiam mais sair de casa para comer steak foi a grande sacada do Umami, e que a qualidade do hambúrguer, assim como a busca pelo quinto sabor a cada combinação, faziam com que o lugar ganhasse mais e mais destaque todos os meses desde a abertura.
Clayton contou que os pratos são pensandos e idealizados de acordo com o que podem render em “umami”, ou em quinto sabor.
Para entender esse quinto sabor precisamos saber que o glutamato é um aminoácido que faz parte de algumas proteínas e que ele é o responsável pelo gosto particular que determinados alimentos têm, e que são atraentes ao paladar humano. Assim, quanto mais glutamato, mais umami e mais atraente será o alimento. E de fato o hambúrguer que eu pedi – vegetariano e feito de feijão – era seco mas bastante rico em gosto, ou em umami como prefere Clayton.
A tese do quinto sabor – depois de salgado, doce, azedo e amargo – foi divulgada em 2009, e a partir dele Fleischman, que trabalhava no mercado financeiro que desmoronou levando junto toda a economia, construiu sua marca de hambúrgueres.
Na saída ficou a impressão de que tínhamos experimentado alguns dos melhores hambúrguers que já havíamos comido, ainda que exorbitantemente caros. Quando o CEO perguntou o que achamos, dissemos que a experiência havia sido muito boa e ele emendou rindo: “Vocês acham então que uma loja como essa poderia dar certo no Brasil?”