Famosos repudiam lei que permite discriminação contra gays
Na quinta-feira, rodeado por freiras, monges franciscanos e judeus ortodoxos, o governador do estado americano de Indiana, Mike Pence (Partido Republicano), assinou uma lei batizada de Ato de Restauração da Liberdade Religiosa.
Segundo a lei, que passa a vigorar no estado a partir de julho e foi apelidada de “liberdade religiosa”, os direitos de comerciantes e prestadores de serviços de negarem atendimento a clientes, cujo estilo de vida violem seus preceitos religiosos, não podem ser legalmente contestados. A lei, assim, abriria espaço para a total discriminação contra vários grupos, em especial a comunidade gay.
A assinatura deste ato desencadeou uma série de protestos nas redes sociais nas últimas 48 horas. Desde artistas como Miley Cyrus e Ashton Kutcher à ex-secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton, condenaram publicamente a lei, sob a hashtag #hb1228. A popstar Cyrus chegou a chamar o governador de “babaca” em sua conta no Instagram.
Mas golpe maior veio na tarde de ontem, via um dos líderes empresariais mais importantes do mundo: Tim Cook. O CEO da Apple, que é abertamente gay, tuítou para um milhão de seguidores seu repúdio: “(a) Apple está aberta para todo mundo. Nós estamos profundamente decepcionados com a nova lei de Indiana e pedindo para o governador de Arkansas vetar lei similar”.
Indiana passa a ser agora o 20o. estado da federação americana a adotar a lei da “liberdade religiosa”. O governador Mike Pence defendeu sua decisão numa coletiva à imprensa e disse que a lei não discrimina gays. “Essa lei restringe a competência do governo de intrometer-se na liberdade religiosa de nossos cidadãos. Se eu achasse que ela fosse discriminatória, eu a teria vetado”, disse.
Nem todo mundo concorda com o governador. Na tarde de hoje, em Indianápolis, capital do estado de Indiana, cerca de 700 pessoas marcharam em direção à sede do governo. Oponentes protestavam contra o fato de a lei permitir incidente similar ocorrido no estado de Oregon. Em 2013, o dono da confeitaria Sweet Cakes by Melissa, recusou fazer um bolo de casamento para um casal de lésbicas, alegando objeção religiosa. Ele defendeu sua recusa, dizendo que homossexualismo “é uma abominação perante ao Senhor”. Processado pelas clientes, o comerciante vai ter que pagar uma indenização de US$ 150 mil para elas.
Numa versão às avessas do boicote pedido pelo pastor e deputado Marco Feliciano contra à Rede Globo, que retrata um casal de lésbicas na novela Babilônia, e à empresa Natura, principal anunciante do programa, grandes empresas, grupos e até prefeituras decidiram boicotar o estado de Indiana.
A Angie’s List, empresa especializada em crowdsourcing e com sede em Indianapólis, disse que vai interromper planos de expansão comercial na cidade. Organizadores da Gen Con, convenção de videogames que planejavam evento na cidade, estão contemplando a ideia de transferir o evento para outro estado. Sem a feira de games, o comércio local (em especial as redes hoteleiras) de Indiana perderia um total de US$ 50 milhões.
A NCAA (sigla em inglês para Associação Atlética Universitária Nacional), que tem sede em Indianapólis e, na semana que vem promove o Final Four, importante evento de basquete na cidade, divulgou a seguinte nota: “Nós estamos especialmente preocupados sobre como essa legislação pode afetar nossos estudantes, atletas e funcionários”. O ex-craque do basquete Charles Barkley foi menos sutil em suas declarações. “Qualquer forma de discriminação é inaceitável para mim. Enquanto houver uma legislação antigay em qualquer estado, eu firmemente acredito que grandes eventos quanto o Final Four e o Super Bowl não devem ser sediados em cidades desses estados”. E o prefeito da cidade de Seattle mandou memorando para todos os setores públicos sob seu comando, proibindo que eles façam viagens de negócios para o estado de Indiana.