“Mad Men” chega ao fim com grande exposicão em NY

Marcelo Bernardes

No dia 5 de abril, a rede americana AMC exibe o primeiro dos sete episódios finais da série “Mad Men” que, em sua derradeira temporada, a de número sete, foi dividida em duas partes. No Brasil, a HBO apresenta o mesmo episódio na noite seguinte, às 21h.

 

Os atores Kiernan Shipka (Sally Draper), January Jones (Betty Francis), Jessica Paré (Megan Draper) e Jon Hamm (Don Draper) em cena da sétima e derradeira temporada de Mad Men. (Foto: Frank Ockenfels 3/AMC)
Os atores Kiernan Shipka (Sally Draper), January Jones (Betty Francis), Jessica Paré (Megan Draper) e Jon Hamm (Don Draper) em cena da sétima e derradeira temporada de Mad Men. (Foto: Frank Ockenfels 3/AMC)

Em entrevista à revista Hollywood Reporter, em 2013, Matthew Weiner, criador da série, explicou que a decisão de ter um hiato no meio da última temporada foi da emissora. “Arranjei um jeito de acomodar a decisão. Acho que foi uma oportunidade”. Com ajuda do seriado, a AMC teve, no ano passado, um lucro publicitário de US$ 469 milhões, 7% a mais que em 2013. Uma inserção publicitária de 30 segundos no episódio final de série pode chegar a US$ 500 mil, mais que o dobro que é cobrado em “Walking Dead”, outra série de sucesso da emissora.

Por mais que tenha sito uma decisão corporativa, visando lucros, a ideia de um interlúdio apresentou também um caráter sentimental. Não é fácil deixar um show tão inspirador e influente como “Mad Men” morrer de vez. E a emissora até que tentou manter o show vivo, com planos (abortados) de um spinoff para as personages de Peggy Olsen (Elisabeth Moss), e um com Sally Draper (Kiernan Shipka), a filha de Don Draper.

Desde que estreou em julho de 2007, “Mad Men” foi um show que se inscreveu fortemente na história da TV americana. Ele chamou a atenção e sedimentou o nome de uma emissora que não tinha qualquer experiência em criar programas dramáticos originais como a HBO. Após “Mad Men”, a AMC criou outros programas de sucesso como “The Breaking Bad” e “Walking Dead”.

 

Executivos da emissora AMC não se empolgaram com a sugestão do nome de Jon Hamm para o papel de Don Draper. Os atores Peter Hermann e Thomas Jane também foram cogitados. (Fotos: Frank Ockenfels 3/AMC e Divulgação)
Executivos da emissora AMC não se empolgaram com a sugestão do nome de Jon Hamm para o papel de Don Draper. Os atores Peter Hermann e Thomas Jane também foram cogitados. (Fotos: Frank Ockenfels 3/AMC e Divulgação)

 

Weiner, que fazia parte do time de roteiristas do seriado The Sopranos, se transformou numa importante voz da teledramaturgia americana. Ele sofreu grande pressão em mudar o estilo moroso e contemplativo da trama. Já no segundo episódio de “Mad Men”, centrado no drama de Betty Draper (January Jones) lidando com o adultério do marido, o publicitário Don Draper (Jon Hamm), Weiner recebeu notas dos executivos da emissora, cobrando-lhe o porquê de ele estar tirando a dinâmica da trama de dentro do escritório da agência de publicidade Sterling Cooper. Wiener se mostrou resoluto. “A gente nunca mudou o estilo do show”, disse o criador, em entrevista ao programa “Today Show”, exibido na manhã de hoje.

Ele também defendeu a ideia de que o elenco teria de consistir apenas de novatos. Nascia assim, uma dúzia de novos talentos já incorporados por Hollywood ou pela Broadway. O único ator de certa expressão, mas dentro do cinema independente, era John Slattery, que foi testado originalmente para o papel de Don Draper. Mas Weiner achou melhor que Slattery ficasse com o papel de Roger Sterling, um dos fundadores da agência Sterling Cooper e que leva uma vida de prazeres proibidos. Em entrevista recente à revista The Hollywood Reporter, Slattery lembra do primeiro episódio de “Mad Men”: “Matt Weiner insiste que eu estava de mal humor durante todo o piloto. Tive umas duas cenas nele, mas não estava emocionalmente conectado com o personagem, como os outros atores, pois não tinha muito do Roger em evidência. Sendo um ator egoísta, não enxerguei, no começo, todo o potencial”.

Jon Hamm e o ator Peter Hermann, que vem a ser o marido da atriz Mariska Hargitay, foram selecionados para o papel de Draper. O ator Thomas Janes também. Weiner tinha seu favorito: Hamm. Mas a emissora não estava convencida da ideia, até porque o vídeo do teste final de Hamm tinha fotografia escurecida, não permitindo que notassem que o ator era muito bonito. Num encontro no hotel Gasenvoort, no bairro do Meatpacking District, em Nova York, os executivos receberam um ultra-nervoso Hamm e se decidiram no ato. “O papel é seu”, um executivo cochichou no ouvido do ator.

Papelada na qual Matthew Weiner escrevia ideias para os seriados The Sopranos e Mad Man; parede do escritório de Don Draper e seus prêmios publicitários em exposição no Museu of the Moving Image, no bairro do Queens, em Nova York. (Fotos: Marcelo Bernardes)
Papelada na qual Matthew Weiner escrevia ideias para os seriados The Sopranos e Mad Men; parede do escritório de Don Draper e seus prêmios publicitários em exposição no Museu of the Moving Image, no bairro do Queens, em Nova York. (Fotos: Marcelo Bernardes)

 

Matthew Weiner era obcecado pelos mínimos detalhes da época, das músicas à cenografia do seriado. Uma tigela para se comer cereal, tinha que ser do ano em que a série passava. Itens da carteira dos personagens e todos os pequenos objetos das gavetas dos escritórios da Sterling Cooper tinham que ser genuínos. No final do ano passado, quando as gravações do programa terminaram, os cenários foram desmontados e transferidos para um galpão em Los Angeles.

 

Parte desse inventário foi transferido recentemente para o bairro do Queens, em Nova York. Ele faz parte de uma das melhores exposições dedicadas a um programa de TV. Batizada de “Mad Men”, a exposicão do Museum of the Moving Image (Museu da Imagem), iniciada na semana passada e que fica em cartaz até dia 14 de junho, divide o show em quatro partes.

 

Na primeira, é permitido entrar no processo criativo de Weiner. Ele começou a esboçar a série em 1999, quando era um dos escritores do seriado “Becker”, estrelado por Ted Danson. Weiner viria a escrever o piloto de “Mad Men” somente em 2001 e, um dos roteiros, de 90 páginase jamais gravado, foi batizado de “The Horseshoe”, e contava a história pregressa de Don Draper, filho de uma prostituta, criado num bordel na década de 30, que rouba e assume a identidade de um soldado morto em combate, e alcança grande sucesso em Nova York durante os anos 60.

 

Réplica da cozinha de Betty Draper, nas temporadas 1-4 de Mad Men. (Foto: Marcelo Bernardes)
Réplica da cozinha de Betty Draper, nas temporadas 1-4 de Mad Men. (Foto: Marcelo Bernardes)

Memorandos, artigos, livros de Betty Friedan ou a biografia de Helen Gurley Brown, a criadora da revista Cosmopolitan, textos, bilhetes e roteiros são mostrados na exposicão. Em alguns dos cartões escritos de próprio punho por Weiner estão ideias soltas como “alienação/quem sou eu”, que, mais tarde foram transformadas em temas centrais de episódios, ou diálogos como “Você deixou um homem entrar em nossa casa.” (Don Draper)/”Não levante sua voz comigo!” (Betty).

 

As cenas de “Mad Men” foram escritas por um time de roteiristas – alguns recém saídos da faculdade. O museu recria a sala dele, em seu tamanho normal e do jeito que ela foi deixada quando os roteiristas terminaram de escrever “Waterloo”, último episódio da primeira parte da sétima temporada.

 

Réplica, em tamanho normal, do escritório de Don Draper, à mostra em museu no Queens, em Nova York. (Foto: Marcelo Bernardes)
Réplica, em tamanho normal, do escritório de Don Draper, à mostra em museu no Queens, em Nova York. (Foto: Marcelo Bernardes)

A ideia da réplica em tamanho normal da exposição se estende a dois cenários: a cozinha da casa de Betty e Don Draper na cidade de Ossining, Nova York, (mostrada entre as temporadas 1 e 4), e o novo escritório de Draper, no prédio da Time Life, na Sexta Avenida, centro de Manhatta. A tostadeira, os livros de receitas e as cartas ainda não postadas de Betty estão à mostra na cozinha. No escritório de Draper, pode ser ver os diplomas emoldurados com os prêmios publicitários que ele ganhou entre 1957 e 1959, fotos da famíla, e garrafas de vodka, gin, uísque e latinhas de água com gás e tônica. Ah, e cinzeiros repletos de bitucas de cigarro.

 

Ao longo da exposicão, uma série de objetos mostram o apuro pelos detalhes de Weiner. Desde uma máquina que dispensava cigarros, passando por uma estante onde ficam embalagens originais de alguns produtos como cereais, refrigerantes, sabão em pó, chocolate, cujas campanhas foram criadas pela Sterling Cooper. No fundo das gavetas das secretárias, edições da revista TV Guide, maços de cigarro, grampos de cabelo e drops de hortelã.

Mais de 30 figurino criados por Janie Bryant estão expostos no Queens: o vestido preto "Zou Bisou Bisou" de Megan Draper, a roupa das secretárias da Sterling Cooper, e o vestido verde ensanguentado (após acidente) de Joan Holloway. (Fotos: Marcelo Bernardes)
Mais de 30 figurino criados por Janie Bryant estão expostos no Queens: o vestido preto “Zou Bisou Bisou” de Megan Draper, a roupa das secretárias da Sterling Cooper, e o vestido verde ensanguentado (após acidente) de Joan Holloway. (Fotos: Marcelo Bernardes)

 

A exposição também apresenta 33 figurinos completos usados pelos personagens. Do vestido verde da ex-secretária Joan Holloway (Christina Hendricks) e coberto de sangue depois de um acidente com um cortador de grama no escritório da Sterling Cooper, passando pelos pegnoirs de Betty Draper, ao famoso “little black dress” usado por Megan Draper (Jessica Paré), segunda mulher de Don Draper, numa festa em que ela canta a música “Zou Bisou Bisou”.

O elenco de Mad Men foi entrevistado hoje cedo no "Today Show", em Nova York (Foto: Divulgação)
O elenco de Mad Men foi entrevistado hoje cedo no “Today Show”, em Nova York (Foto: Divulgação)

 

Completa a série, uma seleção de dez filmes selecionados por Weiner e que tiveram grande influência no desenvolvimento da trama e de seu visual. Entre eles estão “Se Meu Apartamento Falasse”, de Billy Wilder (1960), “Veludo Azul”, de David Lynch (1987), “Les Bonnes Femmes”, de Claude Chabrol (1960), “Despedida de Solteiro”, de Delbert Mann (1957) e “Não Podes Comprar Meu Amor”, de Arthur Hiller (1964). Weiner também foi fortemente influenciado por dois filmes de Alfred Hitchcock: “Um Corpo que Cai” e “Intriga Internacional”, (respectivamente de 1958 e 1959). De “Intriga Internacional”, segundo Weiner, veio a principal influência do visual do piloto da série e dos episódios seguintes da primeira temporada. “E vale notar que Cary Grant está intepretando um publicitário de nome Roger, que é forçado a assumir a identidade de outro homem”, diz Weiner.