Emergente é musa fashion do ano na TV
Não é fácil para Cookie Lyon ser fashion. Nos últimos 17 anos – período em que o ex-marido construiu um império musical, gerenciando artistas do rock e hip hop e a trocou por mulher mais jovem – Cookie esteve atrás das grades, cumprindo (injustamente) pena por tráfico de drogas. Ela não sabe o que é Twitter, hashtag e muito menos que casacos brancos de pele só são permitidos em filmes sobre cafetões.
Cookie também tem arqui-inimigas de corpos esculturais. A ex-presidiária gosta de chamar Anika, que roubou-lhe o marido e tem planos futuros ambiciosos com ele, de “Halle Berry de bunda falsa”. De olho em um dos filhos de Cookie, o rapper Hakeem, está ninguém menos que a modelo inglesa Naomi Campbell, a qual Cookie se dirige como “pegadora”. Outro apelido para Naomi: Yoko Ono, por ela estar tentando sabotar a carreira musical de Hakeem. “Bem, o que você sabe fazer, Yoko? Você sabe tocar pandeiro?”, zomba Cookie.
Como uma mulher dessas se tornou a grande sensação da moda na TV, via o seriado da rede Fox “Empire”, e puxou o tapete da princesa Olivia Pope (a personagem de Kerri Washington, em “Scandal” e, até então, a mulher mais elegante da TV – até a grife Banana Republic lançou uma coleção inspirada em Olivia)?
Em primeiro lugar, a contratação da atriz Taraji P. Henson, que foi indicada para o Oscar de coadjuvante em 2009 por “O Curioso Caso de Benjamin Button”, para viver a contraventora que deixa a penitenciária, assume parte da grana do ex-marido, e se torna uma emergente. Criada pelo cineasta Lee Daniels e o produtor Danny Strong, “Empire”, com seu cruzamento de novelão das oito com diálogos (sem censura) de oficina mecânica, veio preencher um grande vácuo na TV americana: o de séries que não se levam muito a sério e não têm medo de ser vulgar. Ou os dramas da TV são bem comportados, ou as séries sobre crimes, células de terroristas no Paquistão e espiões russos são sofisticadas e sombrias. “Empire” começou bem, com média de 10 milhões de espectadores e, terminou sua primeira temporada, na noite de quarta-feira, com um total de 18 milhões público. Êxito total. Mais curioso é que uma série tão folhetinesca como essa tenha atraído mais homens do que mulheres.
A Cookie de Taraji P. Henson é pura vulgaridade. Seu comportamento de ex-mulher de periferia, que tenta se adaptar ao fato de estar rica e à vida mansa e sofisticada dos três filhos e ex marido, é uma lufada de ar fresco por entre tantas advogadas chiques ou mulheres de políticos na TV. Nos episódios de “Empire”, Cookie usa a palavra “vaca” tanto quanto Madonna a profere em algumas letras das canções de seu novo CD, “Rebel Heart”. Não é à toa que a mídia americana passou a dizer que “bitch is the new black” (vaca é o novo preto”). Cookie também adora gírias. Uma das mais divertidas – e que surgiu de um improviso de Henson – é o apelido que ela dá a inimiga Anika (a atriz Grace Gealey): “Boo Boo Kitty”, que pode ser usado em tom pejorativo como “amorzinho”, como também para colocar alguém em seu devido lugar.
Trunfo tão bom quanto o vocabulário chulo de Cookie é o trabalho da figurinista Rita McGhee, que quebra as convenções da profissão. McGhee não só garimpa os melhores vestidos ou blusas de pele de zebra, oncinha, ou qualquer outro quadrúpede vindo das savanas africanas e que se tornaram a marca registrada de Cookie (junto com casacos de pele), como também faz um pouco de malandrgaem. Ela pega emprestado roupas das amigas.
As estolas e casacos de pele vêm do guarda-roupa da Janet Bailey, mulher do músico da extinta banda de música soul Earth Wind & Fire, Philip Bailey. A irmã de McGhee vem a ser casada com o filho de Janet e Philip. Outra colaboradora é Monique Mosley, batizada por McGhee de “couture angel” (anjo da alta costura). Além de ser consultora de moda na série, Mosley é mulher do músico Timbaland, que cuida da trilha sonora do programa (o CD das trilha está em primeiro lugar entre os mais vendidos na loja virtual da Apple). Do guarda-roupa de Mosley, McGhee toma emprestado vários acessórios de grife e vestidos Gucci.
McGhee tem um orçamento minguado para o figurino de “Empire”. Nos melhores dias, ela consegue que o valor seja de US$ 20 mil por episódio. Mas só um vestido Balmain usado por Cookie custa US$ 10 mil, sem falar nos ternos Prada e Burberry que Lucious (Terrence Howard), ex-marido de Cookie, usa. No seriado “Dinastia”, produzido nos anos 80, o figurinista Nolan Miller tinha um orçamento de US$ 35 mil por episódio para vestir as inimigas interpretadas por Joan Collins e Linda Evans. “Às vezes a gente pega roupas do guarda-roupa de Monique, e que eu acredito que nem foram usadas ainda. Ela literalmente tira jóias do pescoço ou carteiras que está usando e nos passa no ato”, explicou McGhee ao jornal Los Angeles Times.
A atriz Taraji já vestiu algumas trocas memoráveis. Invadiu uma reunião de acionistas da Empire Records usando apenas maiô-lingerie de seda preta da grife Victoria’s Secret por baixo de um casaco de pele marrom. Sua roupa mais popular – e 100% pele de oncinha – foi usada num dos primeiros episódios: sapatos e bolsa Christian Louboutin, vestido Valentino e um chapéu Philip Treacy. Valor da brincadeira: mais de US$ 4 mil.
Cookie, segundo McGhee, foi inspirada pelas personagens que Sharon Stone e Diana Ross interpretaram, respectivamente, nos filmes Cassino” e “Mahogany”. “Nossas sessões de prova de roupa são ótimas, pois a Taraji sabe o que quer e o que fica bem nela”, diz McGhee.
Em Empire, Cookie ainda veste roupas de Diane von Furstenberg e acessórios de Alexander McQueenl. Como diz um dos bordões de Cookie e cultuados pelos fãs das série: “Oh, you fancy, uh?” “Chique você, ahn?
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