Meu primeiro jogo de futebol nos Estados Unidos
O metrô deixa os torcedores quase dentro do Yankee Stadium, mas quando tomei o transporte público no Baixo Manhattan, onde moro, para ir até o Bronx, onde fica o estádio do time de baseball mais popular do estado de Nova York – hoje emprestado para o New York City FC – nada poderia indicar que se tratava de uma partida com casa cheia.
Embora fosse a estreia do novíssimo time do New York City FC, ou NYCFC (da mesma franquia do Manchester City), o vagão estava quase vazio, nenhum torcedor com camisa do clube, nenhum grito de torcida, nada. Na minha cabeça fazia sentido que fosse assim porque, afinal, eu estava indo ver um jogo de futebol nos Estados Unidos, ou soccer como eles preferem, e todos sabem que o soccer não é popular por essas bandas. Ano passado peguei a saída de um jogo de baseball e os vagões estavam abarrotados, os fãs cantavam e gritavam.
Quando saí da estação e olhei os arredores do Yankee Stadium achei que alguma tragédia havia acontecido: era um mar de pessoas, gente para todos os lados, torcedores a perder de vista. De onde veio tanta gente?
Conduzida pela multidão, consegui chegar com algum esforço ao portão de imprensa. Revistas feitas, credencial no peito, entrei.
O Yankee não é um estádio grande, mas é imponente. Tem capacidade para 50 mil pessoas e estava lotado, mas o barulho que eu escutava era todo da torcida do New England Revolution – o adversário -, pequenina e espremida em um canto. Os torcedores do NYCFC que lotavam o estádio estavam praticamente mudos. Normal para um time recém-nascido, pensei.
A camisa do NYCFC é azul clara, idêntica à do Manchester City, o que dá uma certa angústia para aqueles que, como eu, implicam com o futebol moderno feito de retrancas, estatísticas e times sem alma montados com muita grana e pouca emoção. Mas no Yankee Stadium a angústia não foi grande porque havia o estranhamento poético de ver um estádio de baseball lotado para assistir a uma partida de futebol.
Muitos telões contam a história do jogo, em replays, enquanto ele acontece. Pelo alto-falante um narrador anuncia cartões dados. Ao lado do maior telão, uma outra tela com algumas estátisticas do jogo – essas coisas que americanos amam – com número de faltas, de escanteios e de chutes a gol.
A torcida no New England Revolution, pequena e barulhenta, emprestava do Red Sox, o time de baseball do estado, o ritmo da popular musiquinha “Let’s Go, Red Sox”, só que hoje era “Let’s go, Revolution”. A do NYCFC tentava pegar o ritmo do “defense” da NBA e encaixar as silgas NYCFC. Não deu muito certo, até porque colocar ritmo em siglas não é das coisas mais fáceis, e eles pararam pouco tempo depois.
Mas nem houve necessidade para muitas tentativas porque o espanhol David Villa, estrela e capitão do time, estava a fim de acabar com o jogo e regeu os fãs. Correu, armou, defendeu, chutou seis vezes a gol (cinco certas), marcou e deu um passe para outro. Lampard, seu companheiro de NYCFC, ainda não estreou, mas ao lado de Villa pode ajudar a criar essa nova legião de torcedores e, quem sabe, alavancar o esporte nos Estados Unidos – coisa que nem Pelé conseguiu fazer.