Björk redefine o fino da fossa em show memorável no Carnegie Hall

Marcelo Bernardes

Não fosse pelos músicos da Alarm Will Sound, mini-orquestra de 15 integrantes usando tênis branco, projeções de vídeo no fundo do palco mostrando o acasalamento de um larva, e a presença da diva do dia com um aplique-auréola em forma de ouriço do mar em cores neon, a primeira parte do show de Björk no Carnegie Hall, no começo da tarde deste sábado, mais parecia uma viagem pelo túnel do tempo. Mais precisamente uma volta a 1956, quando Billie Holiday invadiu o palco da lendária casa de shows de Nova York e cantou os clássicos da fossa mais devastadores como “Body and Soul”, “Yesterdays” e “Don’t Explain”.

 

Björk divulga novo CD, Vulnicura, em show no Carnegie Hall. (Crédito: Kevin Mazur)
Björk divulga novo CD, Vulnicura, em show no Carnegie Hall. (Crédito: Kevin Mazur)

Björk arranca do peito e segura seu coração partido durante uma hora. Nesse período, a cantora islandesa interpreta seis canções tiradas de seu último álbum, Vulnicura, lançado em janeiro, e cujo epicentro é o fim do relacionamento com o artista e cineasta novaiorquino Matthew Barney. O resultado dessa primeira parte é magnífico. Björk se contorce e projeta o corpo (como se quisesse rasgar uma fina camada que a impede de avançar para a frente) e sua voz cristalina soa dolorida, mas também desafiadora.

 

Ela abre o show pedindo por mais “respeito emocional” na canção “Stonemilker” (“Eu tenho necessidades emocionais/gostaria de sincronizar nossos sentimentos”). Prossegue com “Lionsong” (“devo jogar óleo nessa ferida?/mas em qual delas?”); “History of Touches” (“eu acordo no meio da noite/sentindo que este é nosso último momento juntos”); e “Family” (“existe algum lugar em que eu possa prestar tributo à morte da minha família?”)

A cantora faz sete apresentações em Nova York até abril. (Crédito: Kevin Mazur)
A cantora faz sete apresentações em Nova York até abril. (Crédito: Kevin Mazur)

 

O ápice da primeira hora é a já clássica “Black Lake”, em que cada estrofe é uma mini-obra-prima da dor do fim de uma história de amor (“eu honrei meus sentimentos/você traiu seu próprio coração/corrompeu aquele órgão”). Essa é a música cujo clipe, de 11 minutos, foi encomendado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York para ser o principal vídeo da exposição que leva o nome da cantora e fica em cartaz até sete de junho. O museu tem recebido muita gente todos os dias e os ingressos costumam se esgotar no começo da tarde.

 

No lendário Carnegie Hall, Björk se apresenta com 15 músicos da orquestra Alarm Will Sound. (Crédito: Kevin Mazur)
No lendário Carnegie Hall, Björk se apresenta com 15 músicos da orquestra Alarm Will Sound. (Crédito: Kevin Mazur)

Desde a semana passada, Björk começou a apresentar uma série de sete shows em Nova York (entre Manhattan e Brooklyn), e que vão até o dia quatro de abril. Essas apresentações são o pontapé inicial da turnê mundial que ela fará a partir de junho, começando pela Europa. Novas datas e países devem ser anunciados em breve.

 

No show, Björk troca de roupas duas vezes. Ela abre com um vestido de malha branco e verde, a tal auréola criada pelo designer japonês Maiko Takeda e sapato branco em estilo enfermeira dos anos 50. Na segunda parte, surge com o rosto à mostra e cabelo solto. Ela usa um vestido branco da designer holandesa Iris Van Herpen (responsável também pela roupa da capa do CD Vulnicura), com top plissado que se expande e contrai durante a apresentação.

 

O produtor-engenheiro de som venezuelano Arca e o percussionista austríaco Manu Delgado durante apresentação no Carnegie Hall: trunfos do sucesso do CD Vulnicura. (Crédito: Kevin Mazur)
O produtor-engenheiro de som venezuelano Arca e o percussionista austríaco Manu Delgado durante apresentação no Carnegie Hall: trunfos do sucesso do CD Vulnicura. (Crédito: Kevin Mazur)

 

No segundo ato, Björk dança mais, ri mais e o público delira com hits passados como ”The Pleasure Is All Mine” (do álbum “Médulla”), “Come To Me” (“Debut”), “I See Who You Are” (“Volta”) e “Undo” (“Vespertine”). Generosa com seus músicos, Björk se mantem, várias vezes durante o show, pelos cantos do palco, deixando sua orquestra solar. Ela também troca diversos olhares de cumplicidade com o percussionista austríaco Manu Delago e o produtor e engenheiro de som venezuelano Arca, que ajudaram a cantora a desenvolver um de seus melhores trabalhos em anos.

 

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