Próxima parada: Baixo Manhattan
Há algum tempo namoramos a ideia de criar um blog que explorasse a vida na parte baixa da ilha de Manhattan, uma região que pulsa em ritmo diferente das demais. É no baixo Manhattan que a cidade apresenta grandes contrastes: é mais confusa, mas também mais aconchegante. É demograficamente densa, mas, em certas regiões, extremamente silenciosa, é aparentemente suja, com sacos de lixo que se acumulam pelas calçadas esperando recolhimento, mas culturalmente fascinante.
É também na parte baixa da ilha que existe uma efervecência que o resto da cidade não tem: lojinhas, cafés, restaurantes, teatros off-off-off Broadway, cinemas históricos, museus alternativos, livrarias anarquistas, ateliês de tatuagem, casas de massagem, barbearias, casas noturnas, estúdios de ginástica, ateliês de moda e acesso livre a celebridades cultuadas – de Daniel Day-Lewis a Laurie Anderson. Com tanto o que fazer, é possível passar meses sem ter que cruzar para o norte o limite da rua 14. E, melhor, passar semanas sem precisar pegar metrô, ônibus ou taxi porque bastam suas pernas ou uma bicicleta para conhecer cada canto da área.
É no baixo Manhattan que a cara de “uma cidade feita por imigrantes e minorias” salta aos olhos. Uma portinha dentro de um barulhento restaurante Chinês pode levar a um bar secreto, um desinteressado restaurante marroquino de preços convidativos ganha fama de “o melhor marroquino da ilha”, um espaço com cinco mesas serve apenas sobremesas finas, em três cursos e com vinhos pareados. Famosos e não famosos combatem a construção de um novo prédio ou o demolimento de alguma parte histórica.
A parte baixa da ilha é a mais apaixonante e inesquecível dela. Não há calçadas largas ou vazias, não há muito espaço entre você e o pedestre ao lado, não há bons restaurantes sem filas, mas há em excesso o que Nova York oferece de melhor: essa rica e rara mistura cultural.
Um lugar que sente como todos os outros a crise americana, que afeta transporte público, hospitais, serviços etc. , mas que, por ainda ser orquestrado por minorias, se recusa a perder o fervor cultural. E também um celeiro de experimentação urbana, nem sempre positivo. É o caso da gentrificação de alguns bairros, como por exemplo o Little Italy, que perdeu hospitais e igrejas-escolas (uma delas onde Martin Scorsese estudou) para dar lugar a uma invasão de boutiques caríssimas.
É daqui, junto com outros tantos QGs da mídia alternativa, como o Gawker (SoHo), Huffington Post e Village Voice (East Village) e The New York Review of Books (West Village), que vamos reportar, sempre com olhar crítico, dar dicas e sugestões.
Expandiremos, naturalmente, o olhar crítico e às vezes sarcástico do Blog Baixo Manhattan para os outros cantos de Nova York e do país. Falaremos dos novos restaurantes e das transformações do Brooklyn, da migração gay que acontece no momento do bairro do Chelsea para o de Hell’s Kitchen, dos ateliês de arte e das praias exclusivas dos Hamptons, balneário chique a 100 minutos da cidade, assim como reportaremos sobre o novo berço da comida experimental que virou a cidade de São Francisco, sobre o atual palco de debate nacional a respeito da equiparação de salários entre homens e mulheres no qual se transformou o Vale do Silício e, e claro, de Hollywood e dos três poderes do entretenimento: cinema, televisão e música.
Os autores, Marcelo Bernardes e Milly Lacombe, farão um dueto e abrirão espaço para expor pontos de vistas diferentes, muitas vezes entre eles mesmos, que esporadicamente discordam um do outro.
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